CAPITULO 7
- Um uniforme estupendo, sim. - Dá a volta? - Daphne Brewett sorriu a Bella - Agora sim que pareces uma babá. As pessoas não te tomaram por uma canguru dessas que trabalham por dois duros. A ti que te parece, Harold?
- Para valer te parece necessário que as babás usem uniforme? - contestou o marido em tom de desculpa.
- Bella usará uniforme, está claro? - sentenciou a mulher, plantando as mãos nos quadris.
Harold assentiu com submissão e agarrou o jornal. Bella, que não estava muito convencida da conveniência de ir com chapéu e bata branca, optou por não expressar suas dúvidas. Daphne tinha um gênio terrível e, por mais que Harold fosse um homem de negócios respeitado, tinha pânico de sua esposa e sabia quando calar-se. Bella recordou que estava ganhando um dinheiro. Se tinha que usar uniforme para comprazer a Daphne, o usaria e não tinha mais do que discutir. Afinal de contas, a mulher tinha tido a suficiente amplitude de miras como para contratar a uma babá jovem e com uma filha própria nas costas, o que tinha suposto uma coisa insanável para outras famílias.
- Muito bem, os meninos têm que estar prontos às duas - lhe ordenou Daphne - Passaremos o fim de semana no priorato de Torrisbrooke. - Seguro que te agrada.
Bella saiu do salão. Três meninos esperavam sentados nas escadas: Tristram, de dez anos, Emily Jane, de oito, e Rolo, de cinco, todos loiros, de olhos azuis, obedientes e educados. Em definitivo, não pareciam meninos. Daphne Brewett era uma mulher muito dominante e teria que se acostumar a seu caráter e sentido de disciplina, pensou, resolvida a integrar-se o melhor possível na família.
- Viu mamãe a pinta que tens? - lhe perguntou Tristram - Não penso deixar que me vejam contigo enquanto usares esse disfarce.
- Não é nada sofisticado - comentou Emily Jane com ares de grandeza.
- Estás muito estranha! - Rolo riu - Agrada-me o chapéu.
Bella se limitou a sorrir e agarrou o cesto de bebê que tinha junto às escadas. Florenza estava desperta, com os olhos castanhos reluzentes sob uns rictos negros. Bella se agachou, levantou nos braços à menina e começou a subir as escadas. Florenza tinha três meses e era o centro do universo de sua mãe.
- Quem vive em Torrisbrooke? - perguntou a metade das escadas.
- Não sei, mas mamãe está encantada com o convite, acho que é alguém nobre com um título - resmungou Tris. – Quem dera pudéssemos ficar em casa. - Cada vez que vai a algum lado se põe em ridículo.
- Não fales assim de tua mãe.
- É que não me agrada que as pessoas se riam dela - disse Tris à defensiva.
Finalmente, às quatro da tarde, uma caravana de limusines partiu para o priorato de Torrisbrooke.
Ao dobrar uma esquina, apareceu um edifício amplo e antigo, de amplos janelões iluminados pelo sol.
Já tinha seis carros estacionados frente à porta.
Um mordomo de idade venerável os esperava com diligência. Daphne e Harold baixaram da primeira limusine. Bella, com Florenza nos braços e coberta com uma gabardina a jogo com o uniforme, saiu da segunda limusine seguida dos meninos. A terceira era só para a bagagem.
Então apareceu um homem alto e pálido e Bella ficou de pedra. Não era possível!
Mas, depois de repassar as feições daquela cara que ainda a perseguia em sonhos, não lhe ficou mais remédio do que reconhecer que era... Edward Cullen! Sentiu pânico. Seria o anfitrião? Por que se não ia estar estreitando a mão de Harold?,Significava então que o priorato pertencia a Edward?
Daphne chamou a seus filhos para proceder às apresentações. Bella permaneceu quieta ao fundo.
Não tinha onde ir, não tinha onde esconder-se. Quando registrou sua presença, Edward ficou desconcertado.
- E esta é a babá, Bella - disse Daphne com entusiasmo. - E a pequena Flo.
Bella levantou o queixo com atitude desafiante. De que tinha que se envergonhar? Era Edward quem deveria sentir-se envergonhado! De fato, nem sequer tinha dirigido o olhar a sua própria filha.
- Conheço Bella. Trabalhava em Sistemas Cullen comentou com calma Edward. – Vamos para dentro, faz frio aqui fora.
Enquanto Daphne comentava alegremente o pequeno que era o mundo, Edward se negava a aceitar o estado de perplexidade em que se achava. Não era mais do que uma coincidência, disse – Bella era a babá dos Brewett e estaria ocupada todo o fim de semana com os meninos. Tinha passado quase um ano desde... Não, por nada do mundo recordaria aqueles momentos.
Ouviu o pranto de um bebê. Não tinha se encontrado com nenhum bebê. Girou a cabeça confundido e o viu nos braços de Bella.
- Não sabia que tivesses tido outra menina - comentou sorridente com Daphne, forçando-se a cumprir com suas obrigações de anfitrião.
- Não é nossa - Daphne sorriu afagada, pois andava cerca dos cinqüenta anos - Com três já tenho bastante. - Flo é a menina de Bella.
Aos pés das escadas onde o mordomo a esperava para ensinar-lhe as habitações, Bella olhou para Edward com olhos de assombro. A que estava jogando? Por que se fazia de surpreso? Talvez não sabia que as gravidezes costumavam acabar com o parto de um bebê?
- Se chama Florenza - disse Tris -. E mamãe a chama de Flo.
- Florenza... - repetiu Edward.
- É italiano - comentou Daphne.
Edward examinou o bebê. Demasiada informação. Seria Florenza sua filha? Que idade teria?
Estava envolvida num xale e, pelo modo em que a arrumaram, mal podia vê-la. Podia ser de outro homem. Não podia ser sua filha! Bella o teria dito, não? Edward retirou a vista da menina. Ao encontrar-se ante a mirada curiosa de Daphne Brewett. Conduziu seus convidados ao salão.
Bella subiu as escadas com a vista nebulosa. Edward tinha ficado estupefato quando Daphne lhe tinha dito que o bebê era da babá.
Tinha ficado olhando para Florenza como se fosse uma caixa de Pandora a ponto de se abrir e provocar uma tormenta de catástrofes. Sentiu um arrepio pelo corpo e apertou à menina contra o peito. Por que se negava a assumir a explicação mais lógica? Estava claro que a incredulidade de Edward se devia a que tinha dado por certo que não seguiria adiante com a gravidez.
Como então devia interpretar seu assombro?
Estaria Rosalie esperando-os no salão abaixo?,Se teriam casado naquele último ano? Só de pensar nisso lhe revirou o estômago. Pela primeira vez, lamentou não ter comprovado se o casamento tinha acontecido ou não. Mas se tinha obrigado a se esquecer de qualquer informação relacionada com Edward como mecanismo de defesa. Tinha virado a página e tinha disciplinado para concentrar-se no presente.
- A casa é do senhor Cullen? perguntou ao mordomo, Jenkins, que subia cada degrau mais devagar do que o anterior.
- Sim, senhorita - contestou sem entrar em mais detalhes.
Três horas mais tarde, depois de supervisionar que os meninos jantassem num salão do térreo,
Bella meteu Florenza em seu carrinho e a preparou para a noite. Bella estava cansada. Os dias começavam às seis, quando a menina se acordava. Era uma sorte que fosse sua noite livre. Tinha-lhe custado chegar àquele acordo com Daphne, mas sabia que as babás internas tinham que estabelecer certos limites se não queriam acabar de serviço as vinte e quatro horas ao dia.
O priorato era uma casa enorme. Talvez pudesse passar o fim de semana sem voltar a se encontrar com Edward. Ainda que outra parte dela estava desejando defrontar-lhe e dizer-lhe o canalha que era. Tirou o uniforme com um suspiro de alívio, encheu a banheira do quarto de banho situado frente à habitação de Florenza e se meteu a relaxar-se.
Abaixo, na biblioteca, depois de pretextar que tinha que fazer um telefonema urgente, Edward folheava com frustração um livro sobre bebês. Só queria saber o peso normal de um bebê ao nascer. Uma vez que tivesse esse dado, talvez pudesse sustentar a Florenza em seus braços um momento e calcular se cabia a possibilidade de que fosse sua filha. Por que não o perguntava diretamente a Bella? Corria o risco de equivocar-se e a situação seria muito violenta.
Convicto de que Bella estaria na piscina com os garotos dos Brewett, Edward se colou na habitação de Florenza. Respirou profundo e avançou com tanto sigilo como pôde para a menina. O primeiro que viu foi uma mecha de cachos castanhos e um par de olhos castanhos que se fixaram nele.
Surpreendeu-se pensando que, para ser um bebê, Florenza era muito grande.
Mas não foi o que mais lhe chamou a atenção. Edward sempre tinha acreditado que os meninos pequenos só realizavam duas atividades: chorar ou dormir. Tinha suposto que encontraria a Florenza dormido, mas tinha os olhos bem abertos, como se fossem um detetor de intrusos, e começava a enrugar o nariz e abria a boquinha.
Edward retrocedeu. Por sorte, ainda que já se tinha resignado ao inevitável, a menina não rompeu a chorar. Florenza girou a cabecinha para olhá-lo, mas quando Edward fez ademanes de aproximar-se de novo, voltou a pôr-se tensa. Não poderia sustentá-la nos braços. Era uma garota esperta, disposta a gritar como um alarme quanto um desconhecido se acercava mais da conta, e não queria assustá-la.
Envolvida numa toalha e descalça, Bella jogou uma olhada ao quarto de Florença para assegurar-se de que estava bem antes de vestir-se. Não pôde crer no que viu. Quis pedir a Edward que lhe explicasse que fazia, mas o modo em que a menina o mantinha cativado resultava realmente divertido. Mas a diversão mal durou dez segundos. Depois a invadiu uma emoção profunda. Pai e filha nunca conheceriam o vínculo que os unia. Edward teria entrado para vê-la por curiosidade, mas isso não significava que tivesse mudado de atitude com respeito a ela.
Ao ouvir um leve suspiro a suas costas, Edward se girou a tempo de ver Bella correr para seu quarto e encerrar-se nela.
Desaprumou-se sobre a cama e afundou a cabeça entre os braços. Odiava-o. Odiava-o com toda sua alma. Pensou em todas as experiências desagradáveis que tinha sofrido nos últimos meses, não só como tinha se sentido no hospital sem receber uma só visita depois de dar a luz a Florenza, na rejeição inicial de seus pais ao inteirar-se daquela neta concebida fora do casamento. Ainda que as relações se tinham suavizado pouco a pouco e tinham enviado algum presente para a menina, Bella não podia evitar sentir que tinha voltado a defraudar a sua família.
Em nenhum momento imaginou que Edward abriria a porta da habitação e se arriscaria a ter uma discussão em sua própria casa. Mas aí estava ele, cento e noventa centímetros de masculinidade, com a cabeça alta e sem o menor assombro de arrependimento.
Durante uns segundos eternos, limitou-se a desfrutar do atraente que seguia sendo, reconheceu a seu pesar.
- Só tenho uma pergunta - disse ele, rompendo o silêncio – Florenza é minha filha?
- Estás louco ou o que? - replicou Bella.
Que pretendia?, fazê-la passar por uma mulher de vida fácil? incapaz de determinar a paternidade de sua filha?
- Como podia cair tanto para insinuar-lhe semelhante ofensa? Sabes de sobra que é tua filha!,Assim não te atrevas a perguntar-me! - exclamou furiosa.
Ficou tão atordoado pela acusação que, durante uns segundos, nos que nem sequer percebeu na extraordinária figura de Bella sob a toalha, não achou resposta alguma. Era pai. Tinha uma filha. Sua mãe era avó. A mãe de sua filha o odiava tanto que nem sequer tinha aceitado sua ajuda, econômica ou de qualquer outro tipo...
- Não sabes o que dizer, não é verdade? - disse então Bella.
- Não... - reconheceu com voz rouca Edward.
- Está Rosalie abaixo? - quis saber ela, dando por suposto o que estaria pensando.
- Rosalie? - Edward franziu a testa. - Que Rosalie?
Bella agarrou o primeiro que encontrou a mão e o lançou sobre ele. O sapato esquerdo lhe golpeou no peito; o segundo, na orelha.
- Que Rosalie? Rosalie Halle!, tua noiva!, aquela que dizias que só era uma amiga, mentiroso!
Os olhos de Edward pareceram sair-se de suas órbitas.
- Não estou noivo. Rosalie é minha amiga. Estive em seu casamento este verão - contestou.
Bella o olhou com incredulidade e uma inquietante sensação de esvaziamento no estômago.
Tinha sido de convidado ao casamento de Rosalie? Edward tinha soado muito sincero - Se pode saber de onde te tiraste que estava comprometido com Rosalie?
- O vi... no jornal... Tinha uma foto. Dizia que estavas noivo... ainda que não o li inteiro...
Edward ficou calado uns segundos com o entre cenho enrugado.
- Agora recordação que um amigo me chamou para felicitar-me por minha suposta pedida – comentou - No jornal onde o tinha lido saía uma foto antiga na que aparecia com Rosalie e tinha mal interpretado o pé de foto. No artigo dizia que seu noivo era Emmett.
Um silêncio envolvente como um manto de neve caiu sobre a habitação.
Bella tinha ficado sem palavras. Tilly só lhe tinha mostrado a foto porque tinha reconhecido Edward, mas sua tia avó não costumava ler o jornal a fundo. E ela também não se tinha atrevido a fazê-lo.
- Diga, quando vistes esse jornal e decidiste que era um mentiroso?
Conteve a respiração. Era normal que tivesse adivinhado o que tinha pensado dele. Sentiu-se culpada, arrastada por um redemoinho de emoções.
- Antes de que viesses a Gales - reconheceu com voz trêmula.
Edward soltou uma risada carregada de ressentimento.
- Que maravilha!, grande conceito tinhas de mim! - Pensavas que tinha enganado a outra mulher contigo. - Não me estranha que te surpreendesse ver-me em Gales, mas não tiveste valor de enfrentar-te a mim. - Não te atreveste a dizer-me que me tomavas por um canalha sem escrúpulos.
- Eu... sinto muito - se desculpou Bella.
- Isso diga a tua filha. Não gastes saliva comigo.
- Não, se o dizes tu - replicou ela, subitamente corajosa - És tu quem decidiu que não queria saber nada dela.
- Nem sequer sabia que existia! –exclamou Edward. Como demônios ia ocupar-me dela se não era consciente de que tinha nascido?
- Te escrevi uma carta dizendo que estava gestante – protestou Bella.
- Não recebi nenhuma carta. Ademais, por que a escreveste?, por que deixaste uma notícia tão importante ao capricho do cor-reio? - Por que não me chamaste? - replicou Edward, não acreditando na existência da dita carta.
Bella fechou os olhos, engoliu saliva enquanto tentava serenar-se. Só, então recordou ter lido que cada ano se extraviavam milhares de cartas. Mas, por que precisamente essa tão importante, por que sua carta? Se teria jogado a chorar.
- Veja, tenho trinta pessoas abaixo esperando para jantar - continuou Edward - Não tenho tempo para seguir falando agora mesmo.
- Te escrevi - assegurou ela.
- E daí se o fizeste? - a castigou Edward - Que classe de mulher confia o futuro de seu bebê a uma carta miserável?
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Voltarei tão rápido que você não terá tempo de sentir minha falta. Cuide de meu coração ele ficou com você!....