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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Amor de Escritorio - 5°

Edward acordou ao sentir o telefone móvel. Desorientado, o que não era normal nele, incorporou-se, tomou consciência de que seguia no escritório e jogou mão ao paletó para pegar o celular.

Era um guarda de segurança do térreo, que lhe pedia perdão, mas queria assegurar-se de se seguia trabalhando. Trabalhando?

Edward olhou de relance para Bella, dormindo sob seu paletó. Sentiu-se incômodo e envergonhado.

- Sim, estou aqui. Ainda demorarei um momento para sair, Willis.

Depois de pendurar, conferiu a hora no relógio. Eram mais de quatro da manhã. Apertou os dentes enquanto tratava de dar um pretexto para quando passasse diante dos guardas com certa baixinha. Não queria arruinar a reputação de Bella.

Edward amaldiçoou a si mesmo. Quanto álcool tinha bebido na festa? Tinha tomado dois copos antes no jantar com os Halle, um pouco de vinho e depois vários conhaques seguidos. E não estava lúcido. Não podia dizer-se que tivesse estado bêbado, mas também não sóbrio de tudo. O álcool tinha afrouxado suas inibições e tinha passado acima de seu código ético, reconheceu resignado.

Olhou Bella de novo. Sua maravilhosa cabeleira se estendia sobre o sofá e um ombro pálido assomava acima do paletó. Parecia um anjo, totalmente em paz e inocente.

Só que, como tinha podido comprovar, já não era tão inocente como antes de pôr-lhe as mãos em cima. Edward descobriu com espanto que desejava agarrá-la pelas costas e acordá-la aos beijos.

Talvez o álcool não baixava a libido?

Mexeu o cabelo enredado e conteve um rosnado. Estava enfadado consigo mesmo. Como podia ter-se aproveitado de Bella desse modo? Tratou de analisar como tinha ocorrido. Tinham discutido. Ele tinha feito um comentário indelicado, e depois tinha se desculpado para que não saísse. De repente, tinha-lhe resultado absolutamente necessário seguir com ela. Depois tinha dito o de que sua mãe não respondia as suas cartas e...

Edward sacudiu a cabeça. Bella trabalhava para ele. Em Sistemas Cullen não estava bem visto que os empregados saíssem juntos. E daí o cabeça de vento tinha rompido a regra? Para cúmulo, Bella era virgem. E não tinha tomado a moléstia de protegê-la. A única vez que tinha estado num sofá com uma mulher era um adolescente, mas tinha tido bem mais cuidado do que a noite anterior.

A tinha incomodado. Mas o que mais o desconcertava era do que, apesar daquele ato de irresponsabilidade, em cima se perguntava se ainda teria cartões de San Valentín à venda. Respirou fundo.

Bella acordou ao ouvir o água de um chuveiro em alguma parte e ficou paralisada ao abrir os olhos e ver seu vestido atirado no tapete. Um segundo depois, deu-se conta de que estava coberta embaixo... era o paletó de Edward! O coração lhe deu um tombo. Tinha passado quase toda a noite em seu escritório. Em seus braços. Enquanto recordava em câmara rápida os acontecimentos que tinham levado àquele inesperado desenlace, saltou do sofá, rezando para que Edward permanecesse no chuveiro o suficiente para que lhe desse tempo de vestir-se e escapar.

Foi de ponta de pé para porta, com os sapatos na mão, abriu uma rachadura e correu para o elevador. Como podia ter sido tão descarada com Edward? Nem sequer tinha tido uma saída com ele! Morta de vergonha, saiu do elevador e passou de longe por diante da mesa de segurança, onde dois homens batiam um papo amigavelmente como se, graças a Deus, fosse invisível.

- É graciosa - lhe comentou o motorista de Edward a Willis, diretor de segurança. Uma longa noite jogando ao pôquer tinha sentado as bases de uma relação de camaradagem entre os dois empregados.

- É uma garota muito agradável. É a primeira vez que sai sem despedir-se - disse Willis.

- Enfim, será melhor do que vá à limusine e faça como se tivesse estado dormindo.

Minutos depois, Edward saiu do elevador apressado, com o cabelo molhado do chuveiro ainda, procurando Bella com o olhar.

Não podia crer-se que se tivesse ido sem dizer-lhe uma palavra. Como se fosse um rolo de uma noite e não quisesse vê-lo ao acordar! Estava indignado. De todas as mulheres com as que se tinha dormido, era a primeira que se evaporava à primeira ocasião que se apresentava. Mal tinha dormido... Se iria a casa, dormiria e a chamaria pela tarde. Então se alegraria de vê-lo. Esperava que passasse uma manhã penosa. Ela merecia, decidiu Edward enquanto saía do edifício.

Essa mesma tarde, Bella estava sentada no trem com a vista perdida no espaço. Olhasse onde olhasse, a única imagem que lhe aparecia era a cara de um homem bonito e pálido.

Era incrível o pouco que tinha demorado em fazer a bagagem. Todos seus pertences cabiam em duas malas. Claro que nunca tinha sido das que colecionavam trastes e mal tinha tido dinheiro para artigos que não fossem de necessidade. O melhor seria começar do zero, disse-lhe. Não podia voltar A Sistemas Cullen. Poderia ter suportado as fofocas sobre aquele estúpido cartão de San Valentín, mas não se submeteria à tortura de ver Edward de novo. Seguro que se sentiria aliviado quando se inteirasse de que tinha apresentado a demissão. Desde depois, acabava de aprender a lição do que passava quando uma mulher se lançava nos braços de um homem. Porque isso era o que tinha feito, pensou com uma mistura de humilhação e sentimento de culpa. Sim, a culpa era do cartão.

Depois de escrever-lhe que o amava, Edward teria que estar morto para não sentir curiosidade. A malícia de Mike, a amabilidade de Edward e sua própria confusão tinham conduzido a uma situação de intimidade física que jamais teria tido lugar em circunstâncias normais. Mas tinham ficado a sós no escritório de Edward. E o tinha olhado com tanto descaro que qualquer homem se teria sentido incitado. Ademais, ainda que não tivesse muita experiência com os homens, em todas as revistas diziam que a natureza tinha programado às mulheres para procurar relacionamentos, enquanto os homens estavam programados para algo bem mais primário...

Enquanto o trem avançava rumo à casa que a tia avó de Bella tinha em Gales. Edward falava com um antigo vizinho desta.

- Não... faz semanas que não a vejo - comentou, bocejando-lhe na cara - Talvez está em casa e não quer contestar. Te importa se volto para cama?

- Em absoluto disse entre dentes Edward.

Encontrava-se em território totalmente desconhecido para ele. Talvez Bella não quisesse saber nada mais dele. Talvez fosse verdade que estava em casa, rezando para que fosse embora e a deixasse em paz. Não era uma reação madura, mas uma mulher que se tinha conservado virgem até os vinte e um anos podia odiá-lo com todo seu coração por ter dormido com ela se achando tão vulnerável. Se decidia esquivá-lo, tinha o direito de persegui-la? Ou pioraria as coisas se a pressionava demasiadamente rápido? Quando finalizou com seu monólogo interior, Edward seguia contendo a vontade de atirar abaixo a maldita porta.

Três semanas depois, Bella estava gritando ao ganso de tia Tilly, que tinha se escondido por trás da porta para atacar por surpresa ao carteiro. Devia de estar vezeiro, porque o homem chegou a sua bicicleta ileso, e foi embora rápido.

Bella regressou ao jardim de tia Tilly, recolheu o jornal e o correio. A tia avó, uma mulher baixinha de encaracolado cabelo cinza, tinha setenta e muitos anos, mas

gozava de boa saúde.

- Responderam ao anúncio que puseste? - lhe perguntou a Bella depois de substituir o livro que estava lendo pelo jornal.

- Parece que sim - contestou com alegria depois de jogar uma olhada aos envelopes. - Com um pouco de sorte, te livrarás desta inquilina num par de semanas.

- Sabes que me encanta que estejas comigo - falou Tilly.

Mas a casinha da tia avó era ideal para uma pessoa, pequena para duas. Ademais, Tilly era uma dessas estranhas pessoas que desfrutava de sua solidão. Tinha seus queridos livros e sua pequena rotina de atividades e Bella não queria abusar de sua hospitalidade. Aos poucos dias de instalar-se na habitação de convidados de Tilly, tinha posto um anúncio numa revista oferecendo-se

para trabalhar como babá outra vez.

Aceitaria o que fosse. Quanto antes voltasse a trabalhar, menos tempo teria para estar sentada compadecendo-se e mais feliz seria. Entrou na cozinha minúscula da tia e preparou chá para as duas. Fazia dias que não lhe agradava tomar café. Claro que também estava prescindindo quase de comer, pensou ao mesmo tempo em que recordava as desagradáveis tonturas que tinha sofrido nos últimos dias. Era evidente que ter rompido o coração não só provocava noites de insônia, senão transtornos de alimentação e indigestões. Pelo menos emagreceria, disse sem conseguir sorrir.

Se alegrava de ter tido suficiente bom juízo para sair de Sistemas Cullen, mas afastar-se de todo seu meio e a perspectiva de não rever Edward era mais dolorosa do que tinha imaginado. Mas era um tratamento de choque, justo o que precisava, tratou de convencer-se.

- Bella... - a chamou Tilly do salão. A sobrinha se acercou à porta. .Não é este o homem para quem trabalhavas? - adicionou, apontando uma fotografia que aparecia no jornal.

Ao princípio só viu o rosto de Edward, mas depois, a seu lado, distinguiu a sua amiga Rosalie Halle.

- Que diz o artigo? - perguntou Bella com falsa indiferença.

- Parece que se comprometeu... É uma mulher atraente. Queres lê-lo? - Tilly lhe ofereceu o jornal.

- Não, obrigada. Olharei depois - Bella regressou à cozinha e soube que já tinha tido bastante com o segundo que tinha olhado a fotografia. Sentia-se mareada e o atribuía à impressão da notícia. Apoiou as mãos no tanque, fechou os olhos e respirou fundo. Se tinha comprometido com Rosalie Halle? Umas semanas depois de que se referisse a ela como uma simples amiga da universidade?

Mais tarde, saiu para dar um longo passeio. Não suportava a tensão de tentar se comportar com normalidade perto de Tilly. De maneira que o homem que amava não era perfeito, disse-se pesarosa. Mas, não era melhor assim? A relação com Rosalie arrojava uma nova luz ao que tinha ocorrido na noite que tinham passado juntos. Edward lhe tinha mentido. Sem dúvida. E a tinha utilizado para obter gratificação sexual. Era evidente que sua relação com Rosalie Halle excedia os limites da amizade platônica desde antes.

Três dias depois, Edward chegou a Gales. Averiguar a residência da única parente de Bella não tinha sido tarefa fácil.

De fato, tinha-lhe custado chamar várias vezes a Austrália até falar com a cunhada de Bella. Se em algum momento se cansava de exercer a medicina, Alice poderia trabalhar como agente das forças de segurança secretas de qualquer país, pensou Edward, recordando o interrogatório ao que o tinha submetido.

Mas, depois de muitas voltas, se perder mais de três vezes, por fim tinha encontrado a casa da tia avó de Bella. Estava protegida por umas cercas - vivas altas, dos que se punham nos jardins de quem odiavam receber visitas inesperadas, pensou com sarcasmo. – Estava tenso e tinha chegado o momento de pensar que lhe diria Bella. Era curioso, mas não tinha parado a considerar esse ponto até aquele preciso momento. Seu objetivo tinha sido encontrar Bella. O que faria com ela quando a encontrasse não lhe custava imaginá-lo, mas decidir que lhe diria sim supunha um repto. Que sentia sua falta no escritório? Que não podia esquecer-se da noite que tinham compartilhado?

Inquieto por tal falta de inspiração, mas demasiado impaciente para pensar a respeito, Edward saiu do carro no meio da chuva. Quando um par de gansos maníacos o atacaram de surpresa, entraram-lhe vontades de estrangulá-los, assá-los numa fogueira e tomar-se o jantar. Com a ansiedade de encontrá-la, não tinha parado para comer e estava faminto e agressivo.

Ao ouvir o estrépito com que os gansos anunciaram a chegada do intruso, Bella correu para abrir a porta. O carro estacionado frente ao jardim era impressionante. Mas foi Edward, tão elegante em seu traje cinza, quem lhe roubou o ar dos pulmões.

Enquanto se desfazia de seus plumados inimigos, Edward viu Bella com o rabicho de olho e ficou quieto. Usava uma malha rosa e uma saia com flores capaz de alegrar até aquele dia tão triste e chuvoso.

De repente desejou agarrá-la, metê-la no carro e fugir com ela.

Depois de uns primeiros momentos de perplexidade,Bella atingiu a perguntar-se que faria Edward ali, parado - sob a chuva. Que diabos fazia em Gales? Como tinha averiguado onde estava?

Olhou-o aos olhos e soube que devia dar-lhe com a porta no nariz. O coração lhe sangrava só de vê-lo. Não queria reviver as dolorosas recordações daquela noite que tanto tinha significado para ela e tão pouco para ele. Durante umas horas, tinha se sentido mais feliz do que jamais tinha esperado, mas a realidade não tinha demorado em apresentar-lhe de novo sua cara mais crua

- Vais tirar de cima de mim os gansos ou é uma prova para assustar teus pretendentes?

Perguntou Edward.Bella acordou de seu estado hipnótico e o liberou dos animais... - Obrigado,cara.

Lhe tremeram os lábios. Bella recordou as sensuais palavras italianas que não tinha entendido no ardor daquela noite de intensos prazeres. Desviou a mirada, envergonhada de sua debilidade.

Sabia que devia pedir-lhe que se fosse, mas não podia fazê-lo e ficar com a dúvida de saber para que tinha ido procurá-la. Ao menos, Tilly estava fora e não teria que lhe dar explicações.

Convidou para ir ao salão e Edward baixou a cabeça para não se dar com o dintel. .A peça estava cheia de móveis e tinha tão pouco espaço que optou por não se mover não fosse atirar algo. Girou-se com cuidado para olhá-la e a viu separar os lábios num gesto talvez involuntário. Mas não precisou de mais pistas. A linguagem corporal não enganava. Sem duvidar um segundo, Edward a agarrou pelas costas com uma mão e atraiu sua cabeça empurrando sua pela nuca com a outra.

Bella gemeu. Notou o contato de sua língua pelo interior da boca. O corpo se derreteu. Estava em contato com a impressionante ereção de Edward, que em poucos segundos tinha passado de burlar a situação a ter a certeza absoluta de que Bella se alegrava de vê-lo. Tudo sairia bem. Essa mesma noite voltariam juntos a Londres. Missão cumprida. Por que tinha temido não o conseguir?

Então, sem nada que o anunciasse, Bella pôs fim ao beijo e se afastou. Os olhos lhe choravam de raiva. Sentiu uma tontura e teve que apoiar as mãos na mesa para respirar profundo. Não tinha direito a beijá-lo sabendo que estava comprometido com outra mulher. Quanto a ele, era evidente que era mais desprezível do que tinha pensado.

- Que se passa? - perguntou chateado Edward.

Bella deu a volta para deixar que as lágrimas lhe escorregassem pelas bochechas.

- Que fazes em Gales? - lhe perguntou dando-lhe as costas.

- Tive uma reunião de trabalho em Cardiff - contestou com calma.

- E suponho que minha caseira te terá dado esta direção.

Deu-lhe raiva que não lhe tivesse ocorrido aquela forma tão simples de localizá-la, mas não lhe agradava estar com rodeios.

- Queria ver-te.

Seria descarado? Talvez acreditasse que seguia sendo tão inocente como antes? E o pior de tudo era que se sentia mareada. Que mulher se entregava a seu chefe em seu escritório para desfrutar de uma relação rápida?

- Pensava que, dadas as circunstâncias, te alegrarias de ter-me perdido de vista – sussurrou acabrunhada.

- Por que? - perguntou surpreso Edward.

- Se não o sabes tu, não serei eu quem te recordar - replicou Bella, que se negava a se rebaixar até o extremo de pronunciar o nome de Rosalie Halle.

Negava-se a lhe dar a satisfação de comprovar que lhe tinha rompido o coração com o anúncio de seu compromisso. Ou talvez acreditava que não estava a par da verdadeira natureza de sua relação com a bonita loira.

Não sabendo em que direção estava indo a conversa, Edward decidiu ir direto ao ponto:

- Por que me mandaste um cartão dizendo-me que me querias? - perguntou. Se a janela tivesse estado aberta nesses momentos, Bella teria corrido a atirar-se por ela. - Parece-me uma pergunta razoável. E estou cansado de falar-te às costas - adicionou com o tom imperioso que utilizava no trabalho.

A confusão avivou o fogo que ardia em suas bochechas, mas o orgulho foi a seu resgate. Bella deu meia volta e encolheu de ombros:

- Por favor, o cartão não era mais do que uma brincadeira!

O silêncio que prosseguiu pareceu eterno.

- Uma brincadeira? - repetiu finalmente Edward. Era a explicação mais simples, mas, por alguma razão, não lhe tinha ocorrido. - Que tens, quatorze anos?

- Foi uma brincadeira estúpida - disse ela tratando de dissimular o tremor dos joelhos – Mas Mike me identificou, deu-lhe mais importância do que tinha e ao final acabou voltando-se na contramão.

- Espero que não acabes também grávida - murmurou Edward com ira contida. - Não creio que isso tu tomasses também em brincadeira.

Bella o olhou espantada, com a ponta da língua fincada no céu da boca. Em nenhum momento tinha pensado nas possíveis conseqüências daquela noite. Não sabia porque, mas tinha dado por certo que Edward tinha tomado precauções.

- Queres dizer que não se protegeu...?

- Eu temo que não - atalhou Edward. Depois exalou um suspiro e adicionou com tom de arrependimento. - Mas aceito que, passe o que passe, a responsabilidade é minha.


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Voltarei tão rápido que você não terá tempo de sentir minha falta. Cuide de meu coração ele ficou com você!....

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