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terça-feira, 23 de março de 2010

Estou pondo 3 CAP. pois esta pasando este final de semana por uma enfermidade. obg gente...Pela Compeennção.

Singularity – Capítulo 5

Vampira?

Durante o verão, outono e começo do inverno, eu vaguei e cacei na área ao redor de Ozarks, e nas profundas matas do Arkansas e norte do Mississipi. Eu caçava apenas quando precisava e deixava minhas visões me alertarem caso humanos estivessem perto demais. Cada vez que eu tomava uma vida, ou mais de uma, sentia-me menos como eu mesma e mais como o monstro dentro de mim. Cada morte matava um pedaço de mim. Eu não queria machucar essas pessoas. Muitas vezes, eu podia vê-los vivendo suas vidas ou suas famílias de luto por suas perdas em minhas visões. Doía caçar alguém cuja vida eu podia ver.

Apenas outras duas visões pareciam importantes para mim. Eram frustrantemente nebulosas e incertas, e mesmo não fazendo sentido para mim, eu sabia que eram importantes. A primeira, claro, era do homem alto e loiro que estava passando por uma porta. Só pude ver esse tanto, isso seria quando finalmente nos encontrássemos, ele entraria por uma porta. Ele era importante, mais importante que qualquer outra coisa, e eu nem sabia seu nome ainda. Mal podia ver seu rosto claramente. Queria muito ver sua face. Era o suficiente para me enlouquecer, ou pelo menos me deixar mais louca do que eu já era.

A segunda visão era ainda mais estranha, se isso fosse possível. Podia ver homens correndo na floresta. Eles corriam mais como os lobos que eu tinha visto na floresta, do que como homens que já vi. Os dois perseguiam algo grande, como um veado ou talvez um urso, e eram mais rápidos que o animal que perseguiam. Novamente, não pude ver seus rostos, apenas suas costas e cabelos. Um era loiro e o outro tinha uma cor incomum de castanho claro avermelhado. Para mim parecia que estavam caçando animais, mas sem as armas que os caçadores de que já me alimentei usavam.

Também percebi, enquanto assistia minha presa e os poucos humanos que tinha visto, que nenhum deles parecia ter imagens ou visões, e nunca paravam como eu fazia para ver coisas em suas cabeças. Então, ou eu era um ser único ou uma verdadeira lunática. Talvez eu fosse as duas coisas.

Ao final de dezembro, eu havia começado a me aproximar de vilarejos e pequenos povoados. Os caçadores, alpinistas, vagabundos e andarilhos de quem me alimentava estavam ficando mais e mais raros nas matas conforme o inverno se instalava. Eu havia descido próximo a uma pequena cidade no norte do Arkansas que era aninhada entre várias colinas. Eu estava no cume de uma delas, para que não machucasse ninguém sem querer, e eu assistia e esperava para escolher uma pessoa remota para saciar minha dolorosa sede.

Enquanto observava as pessoas irem para suas casas sob o crepúsculo, vi um vulto mover-se na rua que forçou-me a ficar de pé, inclinada e alerta. Ela era pequena e com um cabelo curto e preto, como o meu, mas não era a única semelhança. Eu sabia, mesmo distante, que ela era como eu. Ela andava graciosamente demais, sua pele era branca demais e cada nervo do meu corpo gritava que ela era perigosa como eu era. Meu corpo e meus instintos disseram-me para correr ou para lutar. Não havia uma terceira opção, mas eu estava presa no lugar. Eu precisava ficar e observar.

Minha mente estava repleta do entendimento de que eu não estava mais completamente só. As únicas outras pessoas que eu havia conhecido eram minhas presas. Mesmo esses que não matei, estavam tão em perigo que eu nem podia pensar em me aproximar deles. Ainda assim, aqui estava outra como eu, e ela estava em meio aos humanos. Eu tinha que ver como essa outra de minha raça podia caminhar pela rua de uma cidade sem pular na garganta mais próxima.

Enquanto a observava, ela desceu pela rua principal e entrou em uma loja. Eu não podia acreditar, e comecei a descer o pico rapidamente para ver se eu estava certa – que ela havia entrado em uma loja com pessoas.

Com certeza, depois do que pareceu uma eternidade, ela saiu carregando várias sacolas com o que pareciam ser roupas. Eu senti uma pontada estranha de ciúme que parecia muito fora do lugar, e continuei a observá-la. Ela foi até um parque próximo ao jardim da escola, colocou as sacolas entre duas árvores e rapidamente virou para correr de volta por entre os becos das casas, para o outro lado da cidade. Ela agora se movia tão rápido que nenhum humano poderia vê-la, mas eu não podia deixá-la desaparecer. Eu tinha que pegá-la!

Corri pela floresta ao redor da cidade, fazendo um arco amplo até o outro lado. Tentei ficar longe das casas humanas para não ser atraída pelo cheiro deles. Finalmente a vi distante, saindo de uma fábrica que fazia divisa com o rio que corria pela cidade. Ela rapidamente jogou um corpo no rio, e então correu para o lugar de onde tinha vindo. Comecei a gritar para ela, mas pensei melhor e refiz meu caminho de volta ao parque. Eu corri mais rápido que ela, então esperei próxima de suas sacolas – lutando contra o instinto de correr ou lutar que gritava dentro de mim.

Ela emergiu das árvores, agachada, enquanto rosnava baixo e ameaçadoramente. Meu corpo reagiu da mesma forma, e me vi agachada com o mesmo rosnado saindo do meu peito.

Eu estava totalmente chocada, fiquei de pé e dei um grito assustado. Rapidamente cobri minha boca com as mãos e a olhei com olhos arregalados. Ela estava agora com o olhar mais cheio de dúvidas que já vi. Era tão engraçado que quase ri, mas eu estava muito preocupada para permitir isso acontecer.

“O que você está fazendo?” perguntou a outra em uma voz adorável. A voz e o olhar eram tão opostos um do outro que eu quase ri novamente.

“Eu não sei, ” respondi honestamente enquanto um riso traidor escapava. Eu saltei um pouco com minha própria voz. Nem minha resposta ou minha reação ajudaram a expressão dela a ficar menos confusa.

“O que você não sabe?”

“Não sei porque fiz aquilo. A coisa do rosnado apenas saiu.”

Ela só ficou lá, parada como uma pedra, então eu também fiquei. Finalmente, ela balançou a cabeça como que para clarear, e então anunciou, “Meu parceiro e eu estamos caçando aqui, então você terá que ir para outro lugar. Há uma pequena cidade rio abaixo; você pode caçar lá.” Ela deu dois passos na minha direção e eu dei três para trás.

“Não vou atacar você; só preciso de minhas roupas novas. A lojinha na cidade tem uma coleção extraordinariamente boa,” ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo.

“Como você fez aquilo?” Perguntei.

“Fiz o que?” Ela disse em um tom exasperado.

“Comprar roupas e não matar ninguém. Eu mal posso ficar a trezentos metros deles sem que o cheiro me force a matar e comer alguém, ” balbuciei rapidamente. Por favor não vá embora. Por favor, por favor, por favor não vá.

“Seguro a respiração quando estou com sede como essa noite. Quando já comi, é bem mais fácil apenas escolher, comprar e sair, ” ela disse bruscamente.

“Você segurou sua respiração o tempo todo?” Perguntei incrédula.

“Por que não? Eu não queria sentir nenhum cheiro, e não precisamos respirar realmente, precisamos?”

“Não precisamos?”

Ela apenas olhou para mim, e então seus olhos se estreitaram. “Quantos anos você tem?” Ela perguntou desconfiada.

“Eu não sei.”

“Como assim não sabe?”

“Não me lembro de quantos anos tenho. Não lembro de nada antes que acordei do sono.”

Ela se afastou um pouco e começou a inalar o ar profundamente. “Você definitivamente é uma de nós, mas você é a vampira mais estranha com quem já cruzei. “

“Sou uma vampira?” Eu gritei.

Eu devia estar aterrorizada. Minha memória fantasma me dizia de algum lugar que vampiros eram coisas ruins, mas o alívio que tomou conta de mim era tão intenso que eu nem me importei. Eu sou uma vampira – o que quer que vampiros sejam.

“Não grite isso de novo. Você é louca?”

Sim, acho que sim. “Não. ”

“Quem criou você? Há quanto tempo você… hum… acordou?” Ela exigiu.

“Ninguém estava por perto quando acordei. Tenho estado só desde então, e não lembro de nada da minha vida antes de acordar, exceto meu nome. Sou Alice, isso é tudo que sei.” Eu estava olhando para o chão, e minha voz soou totalmente deprimida. “Eu acordei a duzentos e noventa dias atrás. ” Minha mente irritantemente perfeita me deu o total sem precisar pensar muito sobre ele.

Ela estava me olhando com o mesmo olhar perplexo em seu perfeito rosto, mas agora também tinha preocupação e talvez pena.

“Deixe-me ver se entendi direito. Você é um vampiro recém-nascido, com duzentos e noventa dias de idade, não lembra de nada exceto de seu primeiro nome, e seu criador te deixou sozinha. ”

“Eu fui criada?”

Ela colocou uma mão nos olhos e respirou fundo algumas vezes antes de responder. Que esquisito.

“Todos somos criados por outro vampiro, ” ela falou lentamente, como se eu fosse uma criança pequena. Acho que para ela eu era, já que me chamou de recém-nascida. “É muito difícil criar outro, e apenas vampiros fortes e bem velhos podem fazê-lo. Normalmente, é feito por uma razão importante, embora eu já tenha ouvido de acontecer por acidente. Eu fui criada por meu parceiro, mas ele quase me matou no processo. Então, alguns de nós somos criados por amor, outros por solidão e outros por serem talentosos ou possuírem dons que trariam para seu criador e seu clã. ”

“Clã?” Perguntei. Eu não estava acompanhando-a completamente, mas aquela palavra me confundiu por completo.

“Dois ou mais vampiros formam um clã. Meu parceiro, Charles, e eu somos um clã. Isso nos traz de volta a você. Quem te criou e por quê?” Ela estava questionando a si mesma.

No momento, outro cheiro chamou minha atenção, mas não era humano. Novamente, meu corpo e mente disseram para lutar ou correr. Vi a mim mesma naquela posição agachada novamente e pude ouvir o tremular de um rosnado formar-se em meu peito.

“É meu parceiro, Charles,” ela disse, levantando a mão para assegurar-me. Bem aí, um homem inacreditavelmente belo saiu das árvores. Ela ergueu a mão para que ele parasse. Ele me olhou com cautela, mas parou imediatamente.

“Charles, essa é Alice, uma recém-nascida. Uma recém-nascida bem confusa. ” Charles deu um passo rápido para trás, e deu a volta para ficar à frente da mulher. Percebi que ele a estava protegendo.

Fiquei parada e tentei parecer amigável, sorrindo, mas não funcionou como eu queria pois ele moveu-se para trás na direção da parceira e começou a abrir os braços.

“Eu não vou machucá-los. Por favor, por favor, não vão embora. Eu só preciso de algumas respostas sobre quem sou. Você disse que sou uma vampira. É por isso que não consigo parar de matar pessoas?”

Charles olhou significativamente para a mulher. “Entendi o que você quis dizer, ” ele disse.

Ele virou de volta para mim e começou a falar da mesma maneira lenta, infantil e amigável que sua parceira havia feito. “Sim, somos sedentos por sangue humano Sua sede é especialmente forte porque você é nova e não aprendeu a controlá-la ainda. Vai melhorar com o tempo, mas sempre precisará de sangue humano Agora, temos que sair daqui. Dois humanos estão mortos e essa conversa não devia acontecer aqui de qualquer forma. Venha conosco. ” Com isso, ele atirou-se floresta adentro com a mulher e eu seguindo-o logo atrás.

Paramos em uma clareira bem no fundo da floresta, e ele me pediu para contar tudo que eu podia lembrar. Contei a eles tudo, desde a primeira vez que vi o sol até a última mulher que tomei como refeição. Tudo, menos minhas visões. Eles já me achavam estranha, não queria adicionar insana à lista. Ambos olharam incrédulos para mim quando terminei.

“Esse é um fato raro, ” Charles disse ao quebrar o silêncio. “Você está se saindo muito, muito bem por ser tão jovem. Não posso acreditar que quem te criou te deixou lá – isso simplesmente não acontece. Você tem um autocontrole excelente, mas podemos te ensinar algumas coisas que vão te ajudar conforme faz sua vida. ”

“Não posso ir com vocês?” Minha voz estava num tom agudo demais, conforme o pânico preenchia minha mente. A idéia de ficar sozinha novamente me aterrorizou.

“Não. Sinto muito, mas somos um casal e não estamos querendo aumentar nosso clã. Além do mais, não estamos preparados para um recém-nascido agora. Recém-nascidos dão muito trabalho, ” ele terminou sorrindo para a mulher cujo nome era Makenna. Ela deu uma cotovelada nele.

“Eu mesma sou razoavelmente nova, ” ela explicou.

Não pude esconder meu desapontamento com a recusa deles, mas não podia culpá-los também. Eu era dificilmente capaz de ir à cidade e fazer um passeio de compras.

“Ok, Alice, vamos começar com o que aconteceu com você e partimos daí. Você foi de fato humana, mas um de nós te mordeu e você se tornou uma de nós. Você não tem idéia de quão sortuda é por não se lembrar da queimação. ”

Makenna acenou vigorosamente, concordando.

“É muito estranho que você não tenha memória alguma de ser humana. ” Charles estava continuando. “Porque todos os vampiros que conheci lembram-se de pelo menos seus nomes e o que eram antes de serem transformados.”

“Quanto você lembra?” Perguntei, desejando mais que nunca que o buraco negro da minha memória liberasse alguns pedaços de informação.

“Sei que eu era um simples sapateiro, que adorava música e leitura, e que minha família era muito importante para mim. Nossas memórias de nossa vida humana são muito turvas. Apenas as coisas que nos definiam ou eram de incrível importância permanecem, e até essas podem ser perdidas com o passar dos anos. É o centro de tudo que somos que carregamos conosco nesta nova vida. Minha personalidade é quase completamente a mesma de antes. Como um vampiro, posso ainda ser essencialmente o mesmo Charles que era porque minhas características básicas ainda estão intactas. Sua personalidade básica ainda está aí, mas você precisa descobrir quem você é do zero. ”

“E se a pessoa que sou é má ou lunática, ou algo do tipo, ” olhei para baixo, não querendo que eles lessem o medo pela parte “lunática” em meus olhos.

“Você é tão avançada para uma recém-nascida abandonada que não tenho dúvidas de que a pessoa dentro de você é absolutamente maravilhosa, ” Makenna assegurou-me. Eu olhei para seu rosto e percebi que ela realmente acreditava nisso.

“Você já sabe esconder toda evidência e essa é a coisa mais importante de todas. Eu não consigo enfatizar isso o bastante, entende?” Charles estava de volta no modo técnico. “Humanos JAMAIS podem saber de nossa existência. A única forma que você pode estar perto deles é se aprender a se enquadrar e controlar sua sede o suficiente. Se qualquer um descobrir o que você é, a vida deles estará perdida. Você deve destruir toda evidência, viva ou não, para que não reste traço algum. ”

“Por que os humanos não podem saber sobre nós?”

“Somos fáceis de distinguir em uma multidão, se você souber o que está procurando,” ele disse com cautela. “Somos vulneráveis o suficiente e em tão pequena quantidade que humanos podem ser uma ameaça se vierem até nós em frente de batalha. Também, eles são mais fáceis de caçar se não souberem de nós. Além do mais,” ele adicionou sombriamente. “Existem regras e quem as mantém. Você nunca vai querer os que guardam as regras, os Volturi, bravos com você. ”

“Volturi, ” repeti, “eles parecem bem malvados.”

“Eles não são malvados; eles apenas viveram o suficiente para saber que o segredo é a chave da nossa sobrevivência. Eles nos protegem ao fazer questão de que ninguém estrague isso para nós. Eles têm nos mantido em segredo e a salvo por dois mil anos. Não os oponha, eles já terminaram com cidades inteiras da nossa raça. ”

Minha boca caiu aberta e eu encarei com admiração o que ele disse. Uma cidade inteira de nossa raça, e os Volturi acabaram com eles. Não, eu não queria me opor aos Volturi.

“A propósito, você entende que agora é imortal e não vai envelhecer ou morrer, não entende?”

Pisquei várias vezes enquanto tentava fazer com que minha mente entendesse a palavra “imortal”. Demorei alguns segundos para lembrar de como falar. “Não, ” sussurrei, “Eu não sabia…Isso faz sentido…um pouco…Já que sou tão forte…e não posso me machucar… ou levar tiros… e não preciso dormir… Mas, imortal…”

Ambos riram de forma sábia, mas seus olhos eram gentis.

Ele começou a falar em uma voz bem baixa. “Você sabe que é difícil nos matar, quase impossível até, mas podemos ser machucados ou mortos por outro vampiro. Na verdade, nossa mordida é a única coisa que deixa marcas em nossa pele. Podemos ser dilacerados por outros de nossa espécie. Se você for dilacerado, pode sarar se as partes forem colocadas juntas. Entretanto, somos todos inflamáveis, menos que querosene, mas ainda assim bastante—“

“Somos inflamáveis?” Isso teria sido bom de saber.

“Sim, podemos queimar, então tenha cuidado com como descarta os corpos, e evite prédios em chamas a qualquer custo. A única forma de assegurar que um vampiro está completamente morto é dilacerá-lo e queimar as partes. ”

Eu devo ter parecido ligeiramente enjoada, porque eles explicaram: “Você nao deve precisar matar um de nós, mas as vezes somos meio territoriais, especialmente esses que vivem na parte sul desta nação – Sugiro que você não vá lá. Agora você é uma predadora, Alice, e como predadores, lutamos uns com os outros às vezes. Você sabe que tem um arsenal incrível de armas naturais: força, velocidade, visão e audição excepcionais, pele impenetrável, veneno—“

“Veneno? Como uma cobra? Para que diabos precisamos de veneno?” O líquido em chamas que eu havia presumido ser apenas saliva era veneno.

“Se nossa presa fugir, o veneno irá pará-la. É algo inútil, na verdade. Quero dizer, humanos simplesmente não fogem de nós, mas, se algum o fizesse, o veneno os incapacitaria. Depois de quinze minutos, contudo, o veneno começa a mudar um humano para um vampiro. Assim que o veneno alcançar toda a corrente sanguínea, é praticamente impossível matar o humano, e um vampiro rescém-nascido surgirá em três dias. Normalmente, entretanto, o veneno é usado contra outro vampiro por ser doloroso. ”

“Foi o que aconteceu comigo, ” sussurrei.

“É o que aconteceu com todos nós, ” disse Makenna.

“Na verdade, Alice, você não precisa se preocupar em lutar contra outro vampiro ou irritar os Volturi. Tudo que você precisa fazer é ficar longe dos clãs do sul, e ser meticulosamente cuidadosa em suas relações com os seres humanos, ” acalmou Charles.

“Você não deve ir muito mais ao sul daqui, ou vai estar na área dos clãs em combate. Além do mais, é muito mais fácil viver nas regiões do norte, ” interrompeu Makenna. “Não há tanta luz solar aqui e em pontos mais ao norte, e muitas vezes podemos sair durante o dia. Você nunca deve deixar que um ser humano veja a sua pele durante o dia.” Concordei com minha cabeça. Eu sabia o que minha pele fazia na luz do sol. “E,” ela adicionou, “não deixe que eles vejam seus olhos vermelhos. Consiga um par de óculos escuros, ou apenas se aproxime de humanos na escuridão ou se estiver com fome o suficiente para que seus olhos estejam pretos. Eles não reagem bem aos olhos escarlates.”

“Meus olhos mudam de cor?” Eu não estive perto de um espelho para notar.

“Ah, sim, querida. Pobrezinha,” ela adicionou, sacudindo a cabeça. “Seus olhos estão vermelhos agora por ser rescém-nascida, mas depois de seis meses ou perto disso, você aguentará mais tempo sem precisar beber sangue. Leva duas semanas para ficarem totalmente pretos, mas a maioria de nós nunca chega a tanto. É normalmente seguro para nós caçar depois de oito dias. Humanos podem ser bastante desatentos, e nós os assustamos o suficiente já assim que eles nem nos olham perto o bastante para notar a mudança de cor em nossos olhos. Apenas não se aproxime deles depois de se alimentar. ” Notei que os olhos dela estavam totalmente escarlates agora, e era um tanto assustador de se ver.

“Mas eu precisarei segurar a respiração perto deles, certo?”

“Sim, mas não tente isso por um tempo. É uma idéia muito ruim forçar a si mesmo porque aí você acaba matando famílias inteiras,” Charles disse e eu estremeci com as palavras. “Sinto muito, mas é a simples verdade. Nenhum de nós gosta do que somos, mas não podemos mudar também. ” Seu tom era sombrio e conclusivo, e eu não duvidava de que sua consciência o incomodava tanto quanto a minha me incomodava. De repente, lembrei de uma segunda visão estranha.

“Vocês já tentaram caçar veados ou alces?” Perguntei um pouco animada demais. O olhar nos rostos deles era tão chocado e enojado que eu ri alto.

“Eca, ” gemeu Makenna, e ela torceu o nariz. “Você já cheirou aquelas coisas? Eles fedem!”

“Eu não acho que podemos sobreviver muito tempo sem sangue humano. Já ouvi sobre vampiros tentando fazer isso, mas acho que eles eventualmente ficam fracos ou enlouquecem. Você pode tentar, a perseguição pode ser divertida, mas não acho que vá gostar.” Ele sorriu com o pensamento. “Devíamos praticar sua cara humana e conversação. E então podemos te ensinar como andar e sentar como um humano. É mais difícil do que parece. ”

Passamos seis dias inteiros dando lições para que ser uma vampira melhor e passar por humana. Eles me levaram até uma mina, onde eu me alimentei de alguns mineiros que estavam bebendo na floresta, e mostraram-me algumas técnicas de caça muito boas. Eles também me deram dicas úteis de sobrevivência – como pegar o dinheiro de uma vítima porque eles obviamente não poderiam mais usar, e escolher vítimas que fossem de meu tamanho para que eu pudesse pegar as roupas. Eles me mostraram como andar desajeitadamente, sentar e me mexer, e usar uma voz rouca e feia. Makenna me deu um pequeno espelho, pelo qual fiquei verdadeiramente grata, para que eu pudesse praticar minha cara “humana.” Eles estavam certos; Agir humanamente era bastante difícil de se fazer.

Eu fiquei arrasada quando eles me deixaram em uma pequena vila em algum lugar no sul do Tennessee. Era para eu praticar perto de um humano ou de dois e não matá-los. Tudo que eu tinha que fazer era segurar a respiração, e tentar não matar ninguém. Fácil.

Comecei a procurar por alguém para passar por perto. Era noite e meus olhos e pele estariam escondidos na escuridão.

Uma família estava aproveitando para pescar em um riacho. Absolutamente não.

Uma igreja estava se esvaziando depois dos serviços da noite. Quão irônico isso seria.

Um homem estava lavando seu carro enquanto sua esposa assistia. Sim.

A casa era na estrada, mas o homem e sua esposa estavam distante uns vinte metros. Respirei fundo, tentando não parecer que estava segurando a respiração, e perambulei estrada abaixo. Todos pararam para olhar para mim enquanto eu cambaleei pela estrada suja. Eu estava descalça e usava um vestido surrado de algodão, e estava frio, mas eles estavam encarando porque na luz fraca eu era belíssima para seus olhos. Mantive o olhar focado em uma placa no final da rua, e eu estava tão extasiada por chegar até lá sem matar ninguém que comecei a dançar, dançar mesmo, mais ou menos. As pessoas da cidade me olhavam como se eu fosse louca, mas eu não me importei. Eles estavam vivos e eu esperava que um dia eu pudesse ser como Makenna e Charles.


Singularity – Capítulo 6

Uma boa vampirinha

Levou-me várias semanas de treinamento, e um acidente muito ruim, mas eu estava pegando o jeito de estar perto dos seres humanos, se eu quisesse, eu poderia ter conversado com eles. Eu ainda não tinha ousado tentar isso, porque iria precisar respirar se tentasse falar. Eu esperava ir de compras em breve. Desde que eu tinha visto Makenna com uma sacola de compras, a vontade de adquirie roupa nova era muito difícil de resistir. Mas primeiro eu queria tentar caçar um veado. A visão dos veados de pêlo claro era mais constante do que nunca, e talvez isso significasse que eu poderia tentar.

Estava um inverno forte agora, e eu ia muito para as florestas de Tennessee para tentar caça veados. Não poderia ser muito difícil se os homens gordos e bêbados conseguiam. Eu tinha roubado um par de calças e uma grossa camisa da minha última vítima. Elas pareciam horríveis em mim, mas seria melhor que um vestido. Prometi a mim mesma que um dia eu teria roupas que me vestissem adequadamente. Como sempre, eu tinha que dar uns nós em tudo até que coubessem em mim.

Fui para a floresta e deixei os meus sentidos me levarem. Eu sabia como os veados cheiravam – Makenna estava certa, eles não cheiravam bem – e eu tinha certeza de que eu poderia encontrar alguns aqui. Demorou mais tempo do que eu imaginava, mas eu finalmente consegui captar o aroma.

Eu quase voltei, mas respirei fundo e segui o cheiro. Só levou apenas alguns minutos para encontrar o rebanho, e eles fugiram assim que entrei em vista. Comecei a perseguição. A corrida foi revigorante, e este estilo de caça era muito mais divertido do que comer seres humanos. Os veados eram velozes, e rapidamente me evitaram, mas fui persistente e tão rápida quanto eles, e eu amei a corrida. Finalmente, um dos veados mais jovens virou-se e estava dentro da distância de ataque. Rapidamente eu pulei em seu pescoço. O animal caiu ao chão comigo em cima, bebi seu sangue quente. Bebi até que ele ficasse seco.

Não é tão ruim assim, eu menti para mim mesmo. Não, é horrível, e agora cheiro como um veado.

Era melhor admitir a verdade. Se eu não tivesse visto os outros dois fazendo isso, eu teria desistido depois de matar o meu primeiro animal. Isso iria demorar um pouco para me acostumar, mas pelo menos eu estava cheia. O importante, nenhum humano havia morrido.

Fiz um abrigo para mim mesma em uma pequena caverna, e permaneci na floresta até o final da primavera. Eu nem sequer tentei ir perto de seres humanos. Bebi sangue dos animais – ursos, veados, lobos – até que eu tinha certeza de que poderia sobreviver deles. Os carnívoros saboreavam muito melhor do que os herbívoros, mas eles eram muito mais difíceis de encontrar.

Durante esse tempo, a visão do importante homem loiro também começou a mudar e se tornar mais focada. Eu ainda não consegui ver seu rosto claramente, mas eu podia ver sua pele pálida e seus olhos negros e avermelhados. Ele era um vampiro, eu tinha certeza disso. Seus olhos eram de algum modo assombrado e muito tristes, e eu desesperadamente queria fazê-lo feliz. Mais do que a necessidade de comer ou viver, eu sabia que precisava estar naquela sala cheia de pessoas quando ele entrasse pela porta.

Quando, finalmente, o ar quente de primavera trouxe as primeiras flores do ano, eu voltei para onde tinha escondido minhas poucas posses: meu vestido, espelho, escova e dinheiro. Eu fui a um córrego e tomei banho, coloquei o meu vestido, e comecei a escovar o meu cabelo curto na frente do espelho. Então eu congelei. Meus diabólicos olhos vermelhos eram de uma bela cor castanho mel. Eu não podia acreditar. Eu ainda tinha dentes afiados, veneno mortal, e minha pele ainda refletia o sol como um milhão de gotas de água, mas meus olhos pareciam tão humanos. Gritei e felicidade e comecei a saltar de alegria. Agora era hora de comprar um vestido.

Levei quatro dias para escolher uma cidade que parecia grande o suficiente para ter uma loja de roupas. Eu cacei até ficar prestes a explodir, de modo que eu não ficasse com sede, e andei com lenta deliberação e sem respirar na cidade por várias vezes, preparando-me para a loja. As pessoas ainda estavam me olhando com olhar de curiosidade ou de assustados, mas ninguém gritou.

Meu corpo todo reagiu por estar em uma cidade. Meus músculos estavam tão apertados que quase me impossibilitou de andar. Minha boca estava tão cheia de veneno que se eu tivesse sorrindo, acho que o teria jogado para fora. Minha garganta estava tão seca que eu não tinha certeza se poderia falar, e ela queimava muito forte.

No entanto, eu não cederia. Eu queria provar para mim mesma que havia mais do que um monstro dentro de mim. Eu queria ser como os seres humanos ao meu redor. Eu queria tanto um vestido e um par de sapatos que combinasse que doía tanto quanto a minha garganta.

Com o ultimo fiasco de minha força de vontade, abri a porta da loja de roupas e entrei. A mulher me cumprimentou delicadamente, mas seus olhos ficaram arregalados e após me dar uma boa olhada ela ficou no fundo da loja. Ela era uma mulher esbelta e negra, e seus dois filhos estavam atrás do balcão, encarando com grandes olhos.

Cumprimentei a proprietária e fui até os calçados. Estes seriam os mais fáceis, porque eu já sabia o meu tamanho, graças à Makenna. Ela mediu o tamanho do meu sapato e todas as minhas outras medidas porque ela disse que eu era muito pequena para encontrar algo pré-fabricado. A mulher simplesmente assistiu enquanto eu olhava as amostras.

“Qual é o tamanho que você gostaria de ver?”, Perguntou ela, nervosa, a uma distância de cerca de 2 metros. Sua voz quebrou no final. Charles e Makenna estavam certos, assustamos. Isso é bom.

“34, por favor, e eu gostaria de colocá-los em mim mesma. Tenho um joanete.” Metade do meu fôlego se foi. A mulher pareceu aliviada, ela voltou, colocando três caixas no chão e distanciando-se rapidamente. Dois dos sapatos se encaixaram muito bem, então eu fiz umas rápidas contas mentais.

Os vestidos também eram apenas amostras. Ou ela iria encomendar o tamanho correto do catálogo, ou ela mesma fazia. Eu me perguntei se poderia aprender a fazer roupas como estas. A idéia me intrigou, mas por agora, iria comprar aqui. Peguei um vestido, duas saias, duas camisetas, um casaco, e dois chapéus. Eu quase não tinha dinheiro suficiente para levá-los, mas em que mais eu preciso gastar?

“Vou levar estes. Aqui estão as minhas medidas. Quando posso buscá-los?” Apenas resta mais um pouco de ar.

A mulher parecia tão aliviada por não ter que chegar perto de mim com a sua trena para tirar as medidas que ela quase sorriu quando pegou o papel, ela foi para a caixa registradora e me disse para voltar na próxima quinta-feira. Eu dei-lhe o nome de Alice Charles, a paguei pelos sapatos e paguei metade do vestido, e sai sem ar restante. Quando passei pelo balcão as crianças olharam para mim.

“Você é a mulher mais branca que eu já vi”, disse a menina.

“Você é tão linda”, disse seu irmão mais novo.

Eu não podia deixar de dar um grande sorriso para agradecê-los pelo elogio e para comemorar a minha vitória de compras, mas o sorriso foi muito aberto – aberto demais. Ambos gritaram e fugiram.

Mesmo crianças assustadas não podiam me impedir de estar feliz. Eu estava quase saltando enquanto descia a rua, cheia de alegria pela minha realização.

Eu sabia que eu poderia fazer isso. Eu iria descobrir quem eu era, de que era feito o meu interior. Gostaria de aprender a ser a vampira Alice, e ainda ser uma boa pessoa. Eu conseguiria um emprego, aprender a fazer roupas, estar com as pessoas, e dançar. Gostaria de fazer o melhor desta vida de pesadelo em que eu tinha acordado. No fundo do meu ser, eu sabia disso.

Peguei os vestidos na próxima semana, ainda sem respirar, mas muito menos tensa. Eu não podia acreditar quão maravilhoso eles sentiam em meus braços enquanto eu os levava para fora da pequena loja. Essas eram as únicas coisas na terra que eram verdadeiramente minhas, feitas somente para caber em mim. Elas eram como a minha âncora para um mundo que tinha sido inteiramente desconhecido e fora do meu alcance. Agora, eu tinha alguma só minha Apenas minha. Ok, eu tinha comprado com dinheiro de minhas vítimas, mas eu não estava disposta a debater morais.

A roupa funcionou fez milagre com os seres humanos ao meu redor. Eu não era mais uma coisa estranha, eu era atraente para eles. Na verdade, eu estava bem melhor vestida do que a maioria deles, e poderia facilmente seduzir qualquer homem da minha escolha até sua morte, algo que não tentava com muitas forças não pensar.

Meu primeiro problema real, além de constantemente querer matar a maior parte da humanidade, era encontrar um emprego. Desde que eu não estava mais me alimentando de humanos e que eu não tinha uma renda. Eu havia acabado de terminar meu segundo ano como vampira e ainda era muito perigoso estar constantemente em torno de humanos, mas eu realmente precisava de dinheiro. Tentei pensar em trabalhos que me deixaria estar a redor de seres humanos, mas não tão perto deles. Quando as pessoas me olhavam de longe, me admiravam, mas não tinham medo. Eu descobri que o susto só vinha quando eu estava mais perto do que uns 4 metros. Então eu ainda tentava manter minha distância quando ia para a cidade para encontrar um emprego. Era muito complicado.

O meu segundo problema era que eu estava muito, muito solitária. Eu não poderia estar perto dos humanos que me cercavam, mas eu também não podia suportar estar longe deles. Uma parte de mim esperava cruzar o caminho com outros vampiros como Makenna e Charles, mas eu nunca vi nenhum. Então, na maior parte do tempo apenas andei pelas cidades, quase sem respirar como Makenna e Charles tinham ensinado, e olhava pelas vitrines.

Já na época que eu já tinha dois anos e meio, eu estava me controlando bem o suficiente para andar na grande cidade de Nashville contanto que não ficasse muito tempo em apenas um lugar. Desde que eu tinha começado a beber sangue de animais, eu tinha apenas assassinados só seis humanos, e estes foram todos acidentes. Dois deles eram homens que estavam muito bêbados, e eles ignoraram o medo e chegaram perto demais. Eles aparentemente pensavam que eu era muito linda para deixar passar. Os outros quatro estavam próximo demais, enquanto caçava. Tomou prática para escolher um bom lugar para caçar, três vezes eu cometi o erro de não ir o suficientemente longe. Fora isso a coisa de sangue de animal estava funcionando bem.

Eu fiquei perto do Smoky Mountains e vizinhança. Eu poderia conseguir um trabalho de colhedor de frutas, mas apenas em dias nublados. Isso funcionou bem, especialmente porque eu tinha uma seção inteira do pomar só para mim, mas durante a colheita era raro ter dias nublados.

Então eu tentei trabalhar em fazendas, mas animais de fazenda não gostam de vampiros. Na verdade, os animais de fazenda odeiam vampiros. Entrei no celeiro e imediatamente os animais entraram em pânico tão horrivelmente que quase destruíram o celeiro tentado fugir. As ovelhas cairam mortas onde estavam. O pobre agricultor passou vários dias tentando recuperar suas vacas e porcos traumatizados. No lado positivo, seus campos seriam bem adubados no próximo ano.

Então, eu procurei. Procurei outros da minha espécie. Eu procurei por um emprego que não iria criar pânico em um homem ou animal. Busquei em minhas visões qualquer vislumbre do homem sem nome que eu amava.

Ao início da primavera de 1923, eu estava andando por Nashville novamente em um dia chuvoso e vi uma placa em uma loja pequena e suja. Foi como um presente dos deuses.

Precisa-se de Costureira

Pagamento por produção feita – Trabalhe em casa

Aplique aqui dentro

Eu estava usando minha saia e a minha blusa, então eu sabia que estava digna o suficiente para aplicar para um emprego. Fiquei ali parade por alguns minutos e tentei ver se uma visão útil surgiria na minha cabeça, mas essas coisas instáveis não foram muito cooperativas, então respirei fundo e passei pela porta.

O velho homem e a velha mulher de dentro da loja olharam-me curiosamente enquanto eu entrava.

“Oi, meu nome é Alice Charles, e eu gostaria de aplicar para o trabalho”, eu disse, com tanta confiança quanto podia mostrar. Então com cuidado eu lhes dei um pequeno sorriso que cuidadosamente não mostrou meus dentes. Os dois sentados em suas máquinas de costura me olharam através de grossos óculos.

“E o trabalho ainda está disponível?” Eu pressionei. “Seria perfeito para mim.” A parte “Trabalhe em casa” que era perfeita, exceto, é claro pelo fato de que eu não tinha uma casa.

O velho foi o primeiro a falar. “É principalmente o trabalho à mão que precisa ser feito.” Então sua esposa terminou seu pensamento com “Você sabe fazer trabalhos manuais?” Eu observei um sotaque em sua voz nasal que me disse que eles não eram originalmente de Nashville.

Não. “Sim, mas eu preciso que você me mostre exatamente o que você quer que seja feito”. Agora eu estava quase completamente sem fôlego. Eu esperei que meus fortes e velozes dedos e minha mente rápida compensariam minha falta de experiência com costura.

“Venha aqui e me observe, em seguida faça o que faço”, disse a mulher bruscamente com o mesmo sotaque cortado. Ela tinha um tom muito profissional.

“Estamos fazendo os bordados para um vestido de casamento”, começou o seu marido.

“… E eu preciso ver se você pode fazer isso antes mesmo de pensar em te contratar”, concluiu a mulher.

Todos os casais humanos casados falavam assim?

Peguei uma cadeira, sentei-me o mais longe que pude na pequena loja, e atentamente observei a mulher bordando o punho de uma manga longa, branca, que ainda não estava conectada ao vestido. Em seguida ela me entregou, me olhando desconfiadamente. Comecei fazer com as minhas mãos o que eu tinha memorizado de vê-la fazendo. Foi bem fácil, mas eu não queria ir muito rápido porque isso poderia me entregar. Terminei o padrão que ela havia me mostrado em vinte minutos.

“Onde você aprendeu a costurar?”, perguntou a mulher depois que eu tinha completado um padrão.

Aqui. “Em casa”, sorri. Eu só tinha fôlego suficiente para poucas palavras.

“Bem, você é muito boa nisso”, a mulher disse aprovando.

“Você está contratada”, disse o marido.

Então ela continuou: “Você vai levar esse vestido, e terminá-lo até quinta-feira. Traga-o de volta para nós completamente bordado no padrão neste papel”, –

- e ele terminou”, – E então, vamos pagá-la. Quando você voltar, nós lhe daremos mais trabalho. Você entendeu?”

Concordei. Eu estava um pouco confusa por seu modo estranho de falar, e eu tinha muito pouco fôlego restante. “Sim, obrigada.”

Peguei o vestido de seda, fios, agulhas e miçangas, e corri para o único prédio vazio que pude encontrar, que era a igreja local. Sentei-me na torre do sino e costurei o resto do dia. Eu tinha terminado pela manhã de quarta-feira, mas eu não levei o vestido de volta, porque fiquei com medo de que pudesse parecer não-humano demais. Sentei-me na torre do sino, admirando o material maravilhoso e as miçangas brilhantes que eu tinha colocado no vestido. Eu adorava a sensação da seda e a aparência das miçangas como foram costuradas.

Quando voltei com o trabalho na quinta-feira de manhã, os olhos de ambos os donos brilhavam de aprovação. Quase explodi de orgulho enquanto eles corriam suas mãos sobre a minha obra e exclamavam que era o melhor que já tinham visto. Eles rapidamente encheram minha cesta com várias outras encomendas que precisava de algum tipo de trabalho manual a ser feito, e me mandaram embora. Eu rodopiava pela estrada enquanto ia para a antiga igreja com o sótão vazio e a espaçosa torre do sino. Eu não só tinha um pouco de dinheiro no bolso pelo qual ninguém teve que morrer, como eu também tinha um emprego.

“Você sabe usar uma máquina de costura elétrica?”, perguntou Myrtle, a metade feminina da Dewer’s Clothiers, na quita-feira da semana seguinte. Hank e Myrtle eram donos da alfaiataria que fazia roupas especiais sob encomenda pelos últimos 32 anos.

“Umm… eu não sou tão familiarizada com isso”, respondi. Não era uma mentira total. Bem, sim, era.

“OK, nós temos uma máquina de pedal lá trás. Eu vou mostrar-lhe como usá-la”, disse Hank enquanto se levantava para limpar a máquina de costura soterrada.

“Nos próximos dias, vamos ter muito trabalho para você” – Myrtle

“Temos uma encomenda de seis dúzias de batas escolares para a escola católica” – Hank

” Então vamos mantê-la ocupada o dia todo na loja, se você tiver tempo. ” – Myrtle

Tenho bastante tempo. Eu tenho a eternidade, pensei. “Eu posso precisar ir lá fora um pouco porque eu não gosto muito de lugares pequenos, mas eu gostaria de ficar e trabalhar”, eu disse. Eu teria de sair e reencher meus pulmões. A falta de respirar não estava me incomodando tanto quanto a falta de sentir o cheiro das coisas. Eu era tão dependente dos cheiros em minha volta que era difícil ficar tanto tempo sem eles, mas de jeito nenhum eu iria me permitir sentir o cheiro humano na pequena loja. Mesmo sem o cheiro deles, o simples fato de que estar perto de um ser humano fazia minha garganta arder de dor. Matar meus primeiros chefes provavelmente seria um mau presságio.

“Eu vou lhe mostrar como passar a linha, e em seguida é só usar o pedal, OK?” Hank começou a falar rapidamente as instruções como se eu devesse saber o que ele estava falando. Cheguei o mais perto que podia ousar e observei enquanto ele passava a linha em um padrão ridículamente complicado.

“OK, apenas sente aqui e sinta a máquina”, ele disse enquanto jogava uns pedaços de pano para mim, obviamente querendo que me acostumasse com a máquina.

“Pode ser que eu demore um pouquinho”, eu disse, enquanto tentava sorrir com confiança. Ele suspirou. Acho que não estava enganando-o. “Ummmm… eu preciso de um pequeno lembrete de como um… … ” Isso não está indo bem.

E então uma visão veio até mim. Nesta visão, eu vi as minhas costas na máquina de costura, costurando freneticamente. Observei meus pés e minhas mãos trabalhando na máquina com experiência. Quando a visão terminou, coloquei meu pé sobre o pedal, pressionado o pé de pressão, e comecei a costurar. Obrigada, visões irritantes e imperfeitas, eu disse para mim mesma. Era assim que uma visão deveria ser, não nebulosa e escura, mas cheia de informações úteis.

“A minha presença incomoda vocês?” perguntei depois de sair para uma pausa. Eu estava tão nervosa por pergunta a eles, mas eu estava realmente curiosa porque eles não pareciam ter medo de mim. “Às vezes deixo as pessoas nervosas.” Principalmente porque eles não gostam de serem comidas.

Hank e Myrtle apenas me olharam por um segundo, piscaram em uníssono por trás de suas lentes grossas, e em seguida ambos deram de ombros. Eles estavam casados e estavam nos negócios há tanto tempo que muitas vezes eles reagiam da mesma maneira e ao mesmo tempo. Era tão engraçado vê-los quanto ouvi-los.

“Eu não sei… há algo sobre você… mas eu não sei dizer. Nós somos de Nova York, do Bronx, e nada menos do que o anjo da morte nos assusta”, afirmou em Myrtle com naturalidade. Eu ri nervosamente.

“Bem… eu não sou exatamente o anjo da morte”, eu ri ironicamente, não era exatamente. “Então, vocês são de Nova York. É por isso que vocês falam desse jeito?

“Sim. Somos de um bairro violento em uma cidade muito dura.”- Hank

“E é preciso muito para assustar um novaiorquino”, Myrtle concluiu presunçosamente.

“Por que vocês foram embora?” Eu adorava fazer-lhes perguntas, porque era tão divertido ouvir as suas respostas em equipe. No entanto, eu teria de sair em breve.

“A competição era demais”, disse Myrtle. “Nova York é a capital da moda do país, e havia tantas lojas de roupas, então decidimos tentar a sorte em outra cidade, e por isso viemos para cá”

“Por que aqui?” Eu estava agora sem fôlego novamente.

“Aqui foi onde a gasolina e o dinheiro acabaram”, Hank riu.

“Você deveria visitar Nova York algum dia.” – Myrtle

“É tão vivo com as pessoas, e as modas são tão além de qualquer coisa que você poderia ver aqui” – Hank

“Que achamos que todo mundo que ame moda deveria visitar a cidade pelo menos uma vez”, concluiu Myrtle.

Naquela noite, fui para a igreja com um monte de batas para costurar. A ideia de uma grande cidade me matava de medo, mas também me fascinava. Um lugar onde as pessoas não tinham medo era bom, mas um lugar sem animais era muito ruim. No entanto, era a ideia de uma capital da moda que realmente me atraia. Enquanto eu costurava, o organista chegou para o ensaio, e me sentei no sótão da igreja perdida com a adorável música abaixo







Singularity – Capítulo 7

Grande Cidade, Pequena Vampira

O trabalho continuou por quase dois anos. Aprendi a chegar à pequena loja antes do amanhecer e me escondia nos fundos até depois do anoitecer. Saia para caçar quando eu precisava, e ia ver partes de Nashville e arredores, sempre que eu queria. Até mesmo assisti alguns espetáculos de variedades tarde da noite, e dancei em uns poucos bares que tinham música. Enquanto dava conta do trabalho detalhado que eu estava fazendo para Myrtle e Hank, eu não ficava sem encomendas. O dinheiro que eles me pagavam era uma ninharia, eu sabia, mas sem quaisquer outras despesas, o pouquinho de salário ia acumulando. Ninguém jamais ia à área do sótão da igreja, então que eu continuava lá, ouvindo música, lendo livros que eu encontrava ou comprava, e decorando o espaço com as poucas coisas que eu possuía.

Também usei o tempo para tentar compreender minhas visões. Obviamente, a visão mais importante era frustrantemente obscura, mas eu sabia agora que o vampiro alto, loiro, com olhos tristes seria meu companheiro. Eu não tinha visto isso, mas eu sabia daquilo como eu também sabia o meu nome. Eu sabia, e isso fazia meu coração silencioso arder de dor, que a razão por que a visão era tão obscura era que ela teria lugar no futuro distante. Quanto mais próxima uma visão era no tempo, mais ela se tornava clara, e então esta estava muito distante.

Então, em 24 de agosto de 1925, Hank morreu.

Eu entrei na loja, como de costume, na segunda-feira, para ver o que precisava ser feito, e encontrei os dois se preparando para deixar-me cortar alguns vestidos de damas de honra. Eu tinha ficado encarregada do corte, uma vez que os olhos de ambos estavam ruins. Eu tinha decidido que uma das razões pelas quais eles não me temiam tanto é que os dois estavam quase cegos.

Na metade do corte, meus afiados ouvidos ouviram uma batida surda na sala da frente, seguido de um grito, “NÃO!”

Corri para ver Hank de bruços no chão com Myrtle tentando virá-lo. Corri até lá e virei-o esperando que ele estivesse apenas tendo algum tipo de ataque, mas estava claro para os meus olhos de caçadora que não havia pulso. Ele estava morto antes de chegar no chão.

De repente, meu peito pareceu como se meu silencioso coração tivesse sido removido e o buraco preenchido com chumbo. Eu não conseguia pensar rapidamente porque as palavras ‘ele se foi’ ficavam ecoando em minha mente, empurrando qualquer outro pensamento para fora do caminho. Em estado de choque, eu fui à farmácia da esquina e pedi à eles para ligarem para a funerária, e voltei para ver Myrtle soluçar sobre o corpo de Hank.

Demorou apenas cerca de 10 minutos para o homem da funerária chegar depois de eu ter telefonado. Ele era um homem amável e se desculpou várias vezes a Myrtle enquanto rapidamente levava o corpo de Hank embora. Myrtle e eu simplesmente ficamos paradas juntas na loja agora vazia, de mãos dadas. Eu não podia acreditar o quanto a morte deste homem me deixou na miséria súbita. Eles eram minha família, e agora ele se foi, e ela era uma concha vazia chorando ao meu lado. Ela estava tão perturbada, que ela nem percebeu a minha mão enquanto a segurava.

Levei Myrtle para cima, para sua casa, e esperei que seus amigos da sinagoga chegassem, mas saí rapidamente quando eles começaram a chegar, porque eles definitivamente tinham medo de mim. Hank era judeu, então ele foi prontamente enterrado no dia seguinte. Pensei que o melhor era apenas voltar para a loja e terminar o que precisava ser feito. Permaneci na loja todo o resto do dia e durante a noite, trabalhando e terminando projetos. Fiquei contente de ter tempo para estar de luto pelo homem que me aceitou como humana.

A dor era especialmente pungente para mim porque eu tinha cometido tantas mortes em minha curta vida, e a realidade do que eu tinha feito me veio à tona em um novo nível.

É isso o que sentiram todas as famílias das minhas vítimas? É essa dor que eu tenho dado aos outros?

A culpa tomou conta de mim. Eu tinha que fazer as coisas direito, por Myrtle, e de alguma forma compensar por todos os outros que eu tinha matado.

Ela voltou na quinta-feira.

“Oi, Myrtle. Eu fiquei e terminei o seu trabalho. Espero que não tenha problema”, eu estava quase gaguejando enquanto tentava dizer algo para ela. Eu estava totalmente perdida.

Myrtle apenas olhou para mim através de seus óculos inacreditavelmente grossos. Finalmente, ela disse, “Obrigado”, em um tom triste. Ela não tinha nenhuma expressão em seu rosto, era como se o corpo dela estivesse lá, mas ela não estivesse nele.

“O que você quer que eu faça agora?” Eu quase implorei. Eu estava desesperada para ajudá-la de alguma forma. Eu queria compensar pela morte de Hank de algum modo.

“Não há nada para ser feito?”, Ela parecia confusa.

“Não, Myrtle, eu terminei todas as encomendas. Elas foram todos entregues, e o dinheiro está no caixa. Você tem mais encomendas?”

“Não, não haverá mais encomendas… Não mais… Eu estou vendendo a loja para Horowitz Costuras… Vou para casa.”

“Você está em casa.”

“Eu estou indo para Nova York. Minha irmã quer eu vá e fique com a família dela. Eu vendi tudo. Eu só vim para pegar alguns itens e, em seguida vou para Nova York.”

Ela ainda parecia confusa, como uma criança perdida. Eu precisava ir tomar fôlego, mas não sentia que eu poderia deixá-la ainda. Então, respirei um profundo e flamejante fôlego e segurei a besta com toda a minha força de vontade. Em dois anos, eu não tinha respirado ao seu redor, e o ar na loja quase deixou minha mente louca com o grosso aroma. Mantive o meu fraco controle tão firmemente quanto pude e disse com os dentes cerrados, “Eu vou ajudar. O que você precisa?”

Ela vagou pela loja e pegou alguns itens estranhos: os óculos dele, seus dedais, uma almofada de alfinetes, um cachecol que ele usava em dias frios, e vários outros itens pequenos. Nós os colocamos em um saco, e eu a levei para cima para a sua pequena casa.

“Myrtle, o que mais posso fazer? Eu quero ajudar você. Você e Hank são a única família que eu realmente já tive, e eu só quero agradecer de alguma forma.”

“Família?” Ela olhou para mim e seus olhos de repente pareciam um pouco mais claro. “Você não tem ninguém aqui em Nashville?”

“Não. Eu não tenho ninguém em lugar nenhum”, eu disse sem emoção alguma. Era estranho como eu me senti oca declarando este simples fato. Eu não tinha ninguém exceto ela, e o pensamento de repente me fez me sentir muito fria por dentro, porque pela primeira vez em meus quatro anos, eu sabia que imortal significava perda e solidão, ao invés de vida eterna.

“Venha comigo. Você é a única família que me resta, então você vem para Nova York comigo. Por favor, diga que você vem comigo”, ela pediu. Eu nunca tinha sido convidada a ficar com ninguém, e a sensação era quente e agradável.

Por que não? Talvez esta seja uma maneira que eu possa compensar os meus pecados passados.

Ela precisa de ajuda, e eu podia ver a cidade grande.

Demorou cinco dias para que ela estivesse pronta para ir. Ela havia realmente vendido tudo, por isso ela tinha apenas algumas malas para carregar para dentro do trem que nos levou à Grand Central Station, na cidade de Nova York. Minhas duas malas estavam lotadas com as roupas que eu tinha comprado ou feito para mim mesma e alguns dos livros que eu tinha.

Quando foi que eu arranjei tudo isso e onde eu colocava isso? Eu me perguntava enquanto empurrava o último dos itens nas malas perigosamente lotadas.

A viagem de trem foi a coisa mais difícil que eu já tinha feito. Felizmente, era verão e as janelas podiam ser abaixadas, porque o vagão de passageiros era velho e com o cheiro de mil de seres humanos. Conseguimos um quarto-dormitório para que ela pudesse descansar e eu pudesse viajar sem ninguém gritando na minha pele. Era muito mais difícil do que eu poderia ter imaginado estar tão perto de tantos seres humanos, então eu mantive minha cabeça para fora da janela durante a noite. Desde de quando eu era uma recém-criada eu não queria sangue humano tanto assim.

Naquela noite, as duas visões mais frustrantes, nas quais eu sabia que minha vida estava totalmente entrelaçada, me atingiram mais fortes e mais claras do que nunca.

Os dois caçadores eram agora três, porque uma mulher tinha se juntado a eles. Eu podia ver os três caçando em algum lugar durante o inverno, ou talvez fosse apenas muito para o Norte. Eles estavam rindo juntos em bosques nevados. Quando a visão terminou, me senti subitamente sozinha. Se eu soubesse onde e quando eles estavam, eu teria pulado para fora do trem e os encontrado. Eu sabia que esta era a família que eu queria e precisava.

A segunda visão aconteceu quando o sol começava a se levantar. Era ele, e meu silencioso coração reagiu a esta visão ferozmente. Ele não estava entrando por uma porta, mas de pé no meio de uma cena horrível. Havia um fogo atrás dele, e ele estava pegando o que parecia ser pedaços de cristal e os jogando no fogo. Eu podia sentir o cheiro muito doce da fumaça. Meus instintos me diziam que isso era morte e destruição, e eu encolhia para longe da visão, mas não podia deixá-la. Eu estava fixada pelo seu rosto, o qual agora eu podia distinguir. Era terrível. Seu pescoço e rosto estavam marcados por aquilo que parecia milhares de marcas de mordida em forma de lua crescente, e isso o fazia parecer assustador e mortal. Mas eram os olhos que verdadeiramente me prendiam porque eram os olhos de um homem preso, quebrado e sem vida. Ele não queria fazer aquilo, eu podia ver isso, mas ele não tinha escolha, e a tristeza em seus olhos forçaram um soluço em mim quando voltei para o presente. Minha outra metade estava sofrendo, e me doía de vontade de confortá-lo. Eu queria mais do que antes saltar deste trem e buscá-lo, mas eu não tinha ideia, novamente, de quando ou onde ele estava.

A única coisa que eu sabia com certeza enquanto o sol subia e eu fechava a cortina, era que eu estava indo na direção certa. Não era coincidência que as duas visões tinham ficado mais fortes quando eu parti para o leste. Eu estava indo no caminho certo.

A irmã de Myrtle, Edwina Schlitz, morava em uma parte bem reservada do Bronx, no que eles chamavam de triplex. Era a casa de seu filho, mas ele tinha dado a sua mãe depois que ele e sua família se mudaram para uma maior, em Manhattan. Seu filho tinha uma enorme quantidade de dinheiro, porque ele era um investidor.

Edwina era apenas ligeiramente menos cega que Myrtle, e saudou-me com toda a suspeita de um nativo de Nova York. Ela passou horas me fazendo dezenas de perguntas, tentando me ludibriar para que eu lhe dissesse qual era o meu real motivo para ajudar Myrtle. Finalmente, ela desistiu e me permitiu ficar no vazio quarto dos serviçais no sótão, o que me satisfazia muito bem.

Myrtle me arrumou um trabalho como costureira noturna em uma das maiores lojas de roupa do Bronx. Eu amava o meu trabalho. Eu estava no centro do mundo da moda, e estava aprendendo mais do que apenas costura e design de roupas, eu estava ficando bastante fluente em espanhol por ouvir as mulheres porto-riquenhas que trabalharam durante a noite nas máquinas.

Nova York provou ser um lugar muito fácil para se viver. Eu era capaz de caçar uma vez por semana, pegando o trem da noite para a orla da cidade e depois correndo cerca de cem milhas para encontrar boa diversão. Eu amava a vida noturna que Nova York oferecia, e eu adorava o fato de que os nova-iorquinos realmente não pareciam se importar que eu era a coisa mais próxima do anjo da morte que eles já tinham visto. Era um paraíso dos vampiros.

Edwina era uma sabe-tudo que realmente parecia saber tudo. Ela muitas vezes conversava comigo sobre operações bancárias e investimentos, e como fazer o dinheiro render. O marido dela tinha sido um banqueiro e seu filho trabalhava em Wall Street, e ela tinha mais conhecimento sobre dinheiro do que qualquer um que eu conhecia.

“Ele vai render por si mesmo se você fizer isso direito. Tudo o que você precisa fazer é se manter um passo à frente do mercado, e ficar de olhos abertos. São os grandes anos 20! Deixe o mercado de ações te tornar rica”, ela me dizia enquanto toda noite eu tomava sua xícara de chá com um pouco de bourbon. “Um bom chá para dormir”, elas chamavam. Depois de dois meses, ela estava finalmente começando a me aceitar como amiga de Myrtle. Eu cuidava delas durante o dia e trabalhava à noite. Nenhuma das duas nem percebia que eu nunca comia ou dormia.

“Me deixe cuidar dos seus investimentos no começo, e em seguida, vou te mostrar o que fazer. Eu sou ainda melhor com dinheiro que meu filho”, ela declarou vitoriosa.

“Eu te darei mil e quinhentos, e se esse dinheiro render, eu lhe darei o restante, mas você tem que me prometer que vai me ensinar tudo o que sabe”, retruquei. Eu estava muito nervosa de perder o dinheiro pelo qual eu tinha trabalhado tão duro. Empregos não eram fáceis para os vampiros.

“Até o fim de dois meses, você terá todo o prazer em me entregar o resto”, Edwina bufou.

Edwina cumpriu sua palavra, e era praticamente uma vidente ela mesma quando se tratava de dinheiro. Dentro de dois meses, o meu dinheiro havia dobrado, e eu lhe tinha dado cada centavo restante que eu tinha. O espírito da época era liberdade-e-curtição, e eu amava cada minuto disso. Edwina era uma professora muito boa, e no Natal de 1925, eu fui capaz de comprar para as irmãs alguns encantadores chapéus e bolsas de uma loja muito chique do lado oeste.

“Você devia trabalhar para o meu filho”, anunciou Edwina em janeiro de 1926. Nós estávamos olhando a seção de investimentos do Times e discutindo os nossos próximos passos. “Você está realmente pegando o jeito do negócio, sabe, e uma garota como você iria muito longe.” Pelo menos é o que ela disse. O que ela quis dizer foi: Meu filho conhece vários homens, e você é jovem e bonita e precisa encontrar um marido.

“Oh, sim, Edwina. Que idéia perfeita!”, exclamou Myrtle, que parecia ter tornado o objetivo de sua vida me ver casada.

Com meus ouvidos perfeito, eu podia ouvi-las toda noite conspirando para me arranjar um homem. Era foi muito doce da parte delas, e, se não fosse uma ideia totalmente mórbida, teria sido hilariante. Do jeito que era minha vida com elas era como uma comédia que você pode ver em um teatro. Duas irmãs viúvas tentando arranjar a vida de sua bela governanta vampira. O enredo tinha potencial.

“Eu realmente gosto do meu trabalho, Edwina, e eu não gosto de trabalhar durante o dia. Além disso, não acontece muita coisa na bolsa de valores durante a noite.”

“Ah, mas é aí que você se engana. O horário da noite é quando todos os bons negócios são feitos. Os jogadores poderosos e ricos trabalham durante a noite para lucrarem de dia. Você vai ver, querida, você seria uma grande ajuda para o meu filho.”

“Pense em todos os homens ricos que se pode encontrar!” Myrtle exclamou, exuberantemente. Ela não era exatamente sutil.

Naquela tarde, eu conheci o mais recente homem que as duas conspiradoras tinham convidado.

Ele era Freddie, o verdureiro do mercado em que fazíamos compras. Ele era bastante agradável, e reagiu da mesma forma que os outros quatro homens que as irmãs tinham forçado a vir. No começo, ele ficou encantado comigo.

“Boa tarde, Sra. Schlitz e Sra. Dewer”, ele educadamente as cumprimentou. Então, ele se virou para mim e estendeu a mão: “Olá Alice, é um prazer vê-la novamente.”

Bem, isso não vai demorar muito tempo.

Seu sorriso largo surgiu no rosto de menino, até que eu deixei ele apertar minha mão. Descobri que tocar minha mão fria como pedra era uma ótima maneira de fazer um pretendente em potencial pensar duas vezes. Ele a apertou e seu sorriso imediatamente deixou o seu rosto.

“Oh, bem, hum, então o que você tem feito para se manter ocupada?” Ele me perguntou enquanto nos sentamos e as irmãs serviram o chá. A auto-preservação se instalou, e ele sentou-se do outro lado da sala de frente para mim.

“Nada mais do que trabalho, trabalho e mais trabalho durante a semana.” Ah, e ter visões e beber o sangue dos animais no fim de semana. “E você, Freddie?”

“Não muito, apenas trabalho e, também ir pescar em meus dias de folga. Você gosta de peixe?”

Eca, eu tinha provado isso, e sangue de peixe era terrível, especialmente porque era frio.

“Não muito. Eu não gosto de animais de sangue frio, mas eu gosto de caçar, todavia, e de fazer compras.” Era a verdade absoluta. A verdade era tudo que eu realmente precisava para fazê-lo ir embora.

“O que você caça?”, ele perguntou.

“Qualquer coisa com sangue quente bombeamento através do seu coração”, eu respondi timidamente, mostrando um pouco dos dentes em um sorriso malicioso.

“Oh, hum …, pegou alguma coisa recentemente?” ele perguntou como as orelhas ficando vermelhas.

“Oh, sim. Na semana passada eu peguei dois alces e um urso pardo perto da fronteira com o Canadá”, disse para seus olhos se arregalando. Não demoraria nada agora.

“Uau! Então… o que você faz com todos os animais?”, ele perguntou, olhando em volta para os troféus costumeiros.

“Eu os como, é claro, bobinho.” Ele só olhou para mim, sem expressão.

Então, uma vez que as duas irmãs não estavam olhando, eu sorri um sorriso enorme para ele. Ele quase quebrou a porta no meio do caminho, deixando as irmãs confusas novamente e se perguntando o que havia de errado comigo para que eu não conseguisse pegar um homem.

Ele durou apenas doze minutos, mas o meu melhor tempo foi de seis minutos e meio com um jovem estudante universitário – Eu era bastante orgulhosa desse. As irmãs não tinham a menor ideia de que o meu verdadeiro problema para pegar um homem era que já tinha apanhado muitos.

Duas noites depois, eu conheci o filho casado de Edwina. Herbert era baixo, gordo e careca, mas ele tinha um ar de importância. Ele me olhou várias vezes, aparentemente oscilando entre medo e admiração, me fez várias perguntas sobre o mercado, e então me pediu para ajudá-lo ser a promotora de uma reunião na noite seguinte. Eu deveria vestir algo “um pouco mais como um vestido de festa do que roupa de trabalho”, e aparecer em seu prédio de escritórios às 20:00 hs.

Naquela noite de quinta-feira, eu me arrumei pela primeira vez. Eu usava um vestido vermelho escuro combinando com o batom rubi, e prendi meu cabelo em cachos pequenos. Eu estava absolutamente deslumbrante. Foi tão divertido me vestir bem e arrumar o meu cabelo que eu fiquei de ótimo humor. Eu não sabia ao certo o que esperar, mas também não estava medo de nada. Eu poderia estar me metendo numa situação ruim, mas eu também poderia estar indo para o meu primeiro encontro profissional e primeira festa, e essa idéia me deixava atordoada de empolgação. Agora, o cheiro humano não era tão potente como tinha sido, e eu era muito boa em encontrar ar puro. Além disso, se a reunião corresse muito mal, eu simplesmente mataria qualquer um que me ameaçasse. Sem problemas.

Cheguei quinze minutos mais cedo, e fui saudada por uma mulher em um vestido curto que era apertado demais para o seu corpo opulento. Eu podia perceber que ela havia sido muito atraente, mas agora ela usava maquiagem demais em seu rosto enrugado e parecia cansada, pelas olheiras ao redor dos olhos inchados. Aqueles olhos quase saltaram fora de suas órbitas quando entrei.

“Oi, eu sou Alice Charles, e Herbert me enviou aqui para ser anfitriã da reunião.”

“Aposto que ele enviou sim!”, ela exclamou enquanto me olhava de cima a baixo. Ela era, obviamente, um desses nova-iorquinos que nem mesmo têm medo do anjo da morte. Eu sorri docemente, isso geralmente funcionava para ajudar os humanos a relaxarem um pouco, mas não funcionou neste caso. “Quantos anos você tem, treze ou algo assim?”, ela demandou.

“Eu tenho vinte”, eu fervi.

Ela levantou uma sobrancelha, pintada de preto. “Você tem alguma identidade para provar isso? Não vou me meter em problemas por você, querida.”

“Você pode perguntar Herbert, a tia dele me conhece,” retruquei. Ela estava estragando o meu divertimento, e eu decidi que não gostava dela. Além disso, eu não parecia ter treze com aquela roupa.

“Você cumprimenta os convidados e pega seus chapéus e casacos. Em seguida, leve bebidas para eles à medida em que eles pedirem do bar. Quando a reunião começar, pegue essa caderneta e sente-se ao lado de Herbert para tomar notas. Você entendeu?” Ela latia as ordens como se eu fosse sua filha.

“Sim, eu acho que posso cuidar disso”, sorri largamente. Ela apenas franziu a testa e se afastou. Essa aí não daria nem uma segunda olhada para o anjo da morte.

Me posicionei em uma parte da porta de entrada que estava na sombra e esperei. Eu não queria assustar ninguém no meu primeiro dia.

Eu certamente não assustei qualquer um dos homens que vieram pela porta do elevador para a reunião, mas aparentemente irritei muitas das mulheres. As senhoras estavam todas brilhantemente vestidas com tecidos ricos que mal cobriam seus corpos, e cada uma me olhou com inveja quando me entregaram os seus casacos. Tive o cuidado de só respirar por uma fresta da janela aberta para que eu não ficasse demasiado sem controle nesta pequena sala. Servi as bebidas sem respirar nem um pouquinho, e então, com um simples pigarrear da garganta de alguém, a reunião começou. Eu rapidamente peguei o bloco e caneta, e comecei a escrever tudo o que era dito pelos homens impecavelmente vestidos em volta da mesa. Comecei a perceber que estes homens eram membros da indústria e corretores, e que eles estavam compartilhando informações entre si para manipular o mercado em benefício próprio. Isso era muito ilegal, e a perspectiva de ser arrastada para esse mundo clandestino, tanto me assustava como me empolgava. Em minha mente, comecei a planejar o próximo passo que eu faria com meu próprio dinheiro, em resposta ao que eles estavam discutindo. No final, fui devolver os casacos para os homens muito amigáveis e mulheres muito iradas, e depois fui ver Herbert.

“Então, Greta diz que você não tem uma identidade. Você tem vinte anos ou não?”, ele perguntou sem rodeios.

Eu pareço ter vinte anos, eu fervia. “Sim, eu tenho vinte. Meu aniversário é em 18 de março. Eu não tenho identidade, porque eu não precisava de uma em Nashville.” Eu sabia que os nova-iorquinos aceitavam qualquer coisa como normal, desde que se originasse de uma cidade menor. Eu poderia ter, provavelmente, lhe dito que eu era uma vampira, e que todo mundo era vampiro na minha cidade natal, e ele teria apenas dado de ombros.

“Bem, você precisará de uma aqui. Vou te enviar a um advogado que providenciará tudo o que você precisa. Você tem uma certidão de nascimento, ou você nasceu em casa?”

“Em casa.” Poderia ser verdade.

Ele suspirou. “Claro. Então eu vou pagar pela certidão, e você paga por qualquer outra coisa, negócio fechado?”

“Claro, isso seria ótimo. Isso significa que você quer que eu volte?”

“Oh, eu realmente quero que você volte, só consiga um vestido mais elegante. Se você está comigo, você precisa estar no nível máximo com a roupa. Nós nos encontramos duas vezes por semana, mais se necessário, então mantenha as suas noites livres. Ei, você ainda se saiu bem com as anotações”, ele sorriu com aprovação e me entregou $ 100. “Este é apenas o começo do dinheiro para você, se você ficar comigo. O céu é o limite, baby, e você pode ir tão longe quanto quiser.”

Eu sabia o que ele estava dizendo, minha aparência poderia me levar longe neste seu mundo ilegal, e eu não tinha certeza se esta era uma boa ideia, mas estava intrigada com as possibilidades. Com minhas visões, que estavam se tornando mais fortes a cada dia, e as informações dessas reuniões, eu poderia me tornar rica o suficiente para viver da forma como eu quisesse. Isso iria ser uma boa colaboração




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