Capítulo 2
- NÃO!, ¡NÃO!, ¡NÃO! - repetiu desesperado Jacob. Deixa o café aí. - Prefiro esticar o braço.
Ainda que Bella obedeceu sem deixar de sorrir um só instante, parecia-lhe excessivo. Não tinha pago já pelo incidente do café derramado? O diretor de recursos humanos lhe tinha dado uma palestra sobre as medidas de segurança que devia tomar para não danar os sistemas informáticos com líquidos e lhe tinha recordado que já tinha um aviso em seu expediente por não cumprir os horários durante o primeiro mês em Sistemas Cullen. Tinham-na ameaçado com despedi-la se voltasse a equivocar-se e estava decidida a não meter o erro nem uma vez mais.
- Que vais pôr esta noite?
Bella levantou a vista do gráfico que estava analisando no monitor e sorriu a Ângela, uma morena esbelta da equipe de investigação de marketing.
- Nada especial. Um vestido.
Escutou a Ângela enquanto esta lhe contava o que ela usaria. Sabia que escolheria uma indumentária que realçaria cada uma das invejáveis curvas da mulher.
- Tenho entendido que mandaram um cartão de San Valentín a Edward - comentou Ângela enquanto Bella imprimia o gráfico que lhe tinha pedido Jacob para uma reunião. O raro é que não tenha recebido uma saca inteira. - Não sei, suponho que será de sua ex, que quererá voltar com ele.
- Sua ex? - perguntou intrigada Bella.
- É que não te inteiras dos acontecimentos. Edward deixou a Tânia Denali faz um mês a informou Ângela. - É uma garota muito festeira e suponho que se aborreceu dela.
- Aposto que não estará muito tempo só - comentou Bella enquanto se levantava a entregar-lhe o gráfico impresso a Jacob.
Tinha mudado a cor de fundo a rosa porque lhe agradava? Sim, a verdade era que recordava tê-lo retocado.
Por sorte, seu chefe guardou o gráfico numa pasta sem maiores críticas. Mas nunca, jamais voltaria a mudar as cores dos gráficos, jurou-se enquanto se acercava ao banheiro para refrescar-se à hora da comida. Olhou-se um segundo no espelho. Ao menos já não tinha espinhas. Mas o cabelo era tão rebelde que era impossível tê-lo bem penteado como as demais mulheres. E se o cortava, lhe custaria ainda mais desenredá-los, assim tinha optado por deixá-los crescer e levá-lo recolhido pela nuca.
Ainda que o maior desafio eram as curvas que tinha. Precisava uma nova dieta. O regime de plátanos lhe tinha arruinado o gosto por eles e o de couve-flor tinha conseguido que lhe dessem tonturas com só passar frente a uma verdureira. Era hora de voltar aos iogurtes, que tinham seu efeito, ainda que a faziam passar o dia faminta e fantasiando com comida.
Ao voltar a sua mesa, advertiu que o ícone do correio eletrônico estava piscando e fincou na mensagem, com a esperança de receber alguma notícia agradável de um amigo.
- Os gráficos rosas são inapropriados num ambiente de trabalho - leu baixinho.
Bella olhou a tela surpresa e depois se girou para ver se alguém a estava olhando. Quem a tinha visto retocar o gráfico? Quem lhe estava tomando o cabelo? A mensagem não estava assinada e na casinha do remetente só aparecia um número anônimo.
- Quem o diz? - Bella digitou a resposta e enviou a mensagem de contestação.
- Prefiro os gráficos escuros.
- As cores escuras são aborrecedores - lhe disse Bella a seu correspondente.
- Racionais. O rosa é uma distração.
- O rosa é vivo e levanta o ânimo protestou ela.
- O rosa é irritante, muito feminino... inadequado - contestou o desconhecido. Porque era evidente que era um homem, decidiu Bella.
- Como viste o gráfico?
- Não mudes de tema... Se recebes um aviso mais, te jogarão na rua. - Tenha cuidado o desconhecido escreveu a segunda mensagem depressa, sem dar-lhe tempo a responder.
- Como sabes disso? - perguntou Bella, desvanecida do sorriso de seus lábios.
Mas nessa ocasião não obteve resposta de seu misterioso correspondente.
Bella pensou quietinha umas poucas pessoas a par daqueles avisos. Com o primeiro se tinha enfadado tanto que o tinha contado ela mesma, e Jacob se tinha enfadado tanto com o café que se tinha inteirado o departamento inteiro dos gritos que tinha dado. Intrigada, Bella enviou várias mensagens mais ao longo da tarde à mesma direção, mas não voltou a obter resposta alguma. Depois começou a pensar na festa dessa noite e na roupa que usaria, dado que o rosa resultava tão conflitivo.
- Não entendo por que embebedas a teus empregados – disse Rosalie Halle com tom de desaprovação. Papai também os empurravam a álcool, mas não tinha passado desde que eu entrei na companhia. Comigo não há música, bebida nem baile e todo mundo se comporta como é devido.
- Me agrada que as pessoas se divirtam. Só é uma noite ao ano - Edward optou pela diplomacia em vez de responder à loira que era um discordância de mulher. Afinal de contas, alegrava-se de que o tivesse acompanhado ao funeral pela tarde e depois tinha desfrutado um jantar com ela e seu pai na casa deste.
- Suponho que isto faz parte de teu lado italiano. Em Oxford também te agradava organizar festas - comentou Rosalie em tom coquete, para recordar-lhe ato seguido que se conheciam desde a universidade.
- Espera um momento, que te trago um copo - disse ao mesmo tempo em que repassava mentalmente a lista de executivos solteiros presentes na festa. Com um pouco de sorte, se encasquetaria a algum deles.
- Tenho uma confissão a te fazer - disse Rosalie quando Edward regressou com o copo. – Quando íamos à universidade, estava apaixonada por ti.
- Sério? E nunca te deste conta reprovou Rosalie. Em quatro longos anos nem te inteiraste de que o que sentia por ti era algo mais do que simples amizade.
Edward deu um trago longo de conhaque. Sentia-se atrapalhado.
- Não lhe ocorria uma forma amável de dizer-lhe que, apesar de que era bonita e inteligente, pois tinha um cérebro prodigioso, nunca tinha sentido a menor atração por ela.
- É curioso, sempre andavas acompanhada de algum garoto - comentou com prudência.
- Quando compreendi que tinhas alergia a compromisso, acostumei-me a ver-te como um amigo.
- Rose, tínhamos dezoito anos. Nessa idade todos os garotos são alérgicos a compromisso se justificou Edward. Ademais, também não perdeste nada. Não era melhor nem pior do que o resto...
- Não sejas modesto - atalhou ela -Todas as garotas estavam coladas por ti! Mas só elegias às que estavam interessadas em relações passageiras. Protegias-te contra qualquer possível relação estável e segues fazendo-o.
Quando Edward foi para outro conhaque, Rosalie estava tão acalorada com seu discurso que o acompanhou. Edward tinha o copo da paciência a ponto de extravasar-se e bebeu o conhaque tão rápido como o anterior. Lamentava horrores os bons modos que o tinham feito sentir-se obrigado a convidá-la à festa. Teria desfrutado bem mais misturando-se com sua planilha. Então olhou para a sala e viu uma figura que lhe fez esquecer-se por completo das palavras de Rosalie.
Esta, ao ver que não lhe prestava atendimento, seguiu a mirada de Edward até repousar a vista sobre uma jovem morena de cabelo castanho. Era baixa, bonita, mas não do estilo de Edward. E, no entanto, a garota tinha conseguido deixá-la em segundo plano.
Bella procurou com o olhar entre as pessoas até que localizou Ângela com um vestido prateado.
Começou a andar para ela com um sorriso de desculpa nos lábios pelo ligeiro atraso com que chegava à festa.
- Um vestido precioso - comentou a amiga enquanto fazia espaço para que Bella se sentasse.
– Onde o compraste?
- Não é novo. Comprei-o para o casamento de meu irmão - reconheceu Bella - Para ser sincera, é o vestido de dama de honra.
- Te acentua genial - Ângela admirou o vestido verde, de esticados finos, que realçava a silhueta de Bella. Depois apontou para as bebidas e lhe recordou que todos os demais lhe levavam vantagem. Deve ter sido um casamento atípico.
- Minha cunhada Alice, também usou um vestido curto - comentou Bella.
A atenção de Bella, que tinha estado vagando pela sala a procura de certo homem, encontrou-se por fim em Edward, sentado junto à barra com uma loira espetacular pendurada ao braço Agarrou o copo que Ângela lhe tinha servido e deu um sorvo para refrescar a garganta, mas conteve o impulso de perguntar a sua amiga se sabia quem era a acompanhante de Edward.
De fato, na realidade não devia estar olhando Edward, pois não fazia senão alimentar sua obsessão. Depois de considerar os comentários zombadores de Mike com calma, tinha chegado à desagradável conclusão de que este suspeitava que se sentia especialmente atraída ao chefe de ambos. De maneira que teria que se mostrar mais circunspecta de agora em diante se não queria que Mike começasse a gastar brincadeiras e terminasse ridicularizando a diante todos os colegas. Seria mais inteligente tratar de averiguar ao misterioso correspondente que se tinha posto em contato com ela por correio eletrônico para aconselhá-la de que tivesse cuidado não fossem dar-lhe o terceiro aviso.
- Quem é? - perguntou Rosalie a Edward.
- Quem é quem? - contestou ele sem fixar-se na direção para a que apontava sua mirada.
- A morena que levas olhando faz três minutos - murmurou ela.
- Não a estou olhando.
- Pois para não estar olhando –a sabes perfeitamente a quem me refiro, apesar de ter centenas de mulheres na empresa - replicou com sagacidade Rosalie.
- Te levantaste com o pé esquerdo? - grunhiu Edward.
- Em absoluto, mas se queres te dou dez razões excelentes para não sair com uma empregada - respondeu Rosalie esboçando um sorriso cínico.
- Não as preciso - Edward voltou a apressar o copo de conhaque. Tenho todas na cabeça nestes momentos.
Depois de bater um papo com alguns amigos, Bella regressou a sua mesa e se sentou de novo.
Ângela e outras duas mulheres estavam falando da colega de Edward, que, evidentemente, era a filha do dono de Indústrias Halle.
- E a ti que te parece Rosalie? lhe perguntou de repente Mike Newton.
- Que vai parecer-me ? - Bella reagiu com um sorriso luminoso - Todas as namoradas do chefe são autênticas belezas.
- Fixa-te, pensava que não te terias dado conta desse detalhe - a desafiou Mike.
- É impossível não se dar conta - interveio Ângela. - O temos em vista desde que saímos para trabalhar. - Quem enviou o cartão de San Valentín a Edward?
Bella ficou gelada e bebeu de um trago ao mesmo tempo em que se ruborizava.
- Falaram que foi alguém da empresa! - murmurou Mike com uma lentidão insuportável.
- E não nos tinhas dito! - exclamou outra das mulheres - Mas, a quem se pôde ocorrer mandar-lhe um cartão para jurar-lhe seu amor eterno? Ou seja, estar esta como um trem, mas Edward nunca responderia a um convite tão descarado de alguém da planilha.
- Mas, não dizias que não tinham assinado o cartão? - lhe recordou Ângela - Como sabes que a mandou alguém de dentro? Porque não a enviaria por correio interno, não?
- Digamos que se trata de uma pessoa pouco inteligente se burlou Mike e Bella não teve mais remédio que morder a língua. --Alguém que pensa que só o nome poderia delatar sua identidade.
- A reconheceste pela letra! - exclamou alguém.
- Não sei, a verdade é que esta conversa não está me agradando - comentou Ângela de repente. - Os cartões de San Valentín são para dar uma alegria.
- Não foi pela letra. - A chave foi o perfume - continuou Mike -. A quem conhecemos todos que lhe agrada cheirar a jasmim?
- Eu a ninguém - disse Ângela e as outras duas mulheres responderam o mesmo. Por sua vez, Bella teve que apertar os dentes para não agarrar um copo e atirar-se em cima de seu torturador.
Entretanto, Rosalie seguia abrindo o coração a Edward, mas este não tirava olho da expressão sarcástica de seu ajudante pessoal e a cara pálida de Bella.
- Espero que me perdoes por ter dito a verdade esta noite - murmurou Rosalie com voz sedutora mas prometi que algum dia te contaria a verdade para fazer-te suar uns minutos. Virás a minha festa de despedida de solteira?
- Festa de despedida? Edward franziu o cenho.
- Não imaginas quanto me alegro de não seguir apaixonada de ti - Rosalie suspirou. - É que não me ouviste que te disse que vou casar com Emmett McCarty e que vem buscar-me em cinco minutos?
Fazia muito tempo que não ouvia uma notícia tão boa.
Alegrava-se sinceramente por Rosalie e era um alívio para ele. Ao compreender que a loira só tinha querido vingar-se um pouco pela indiferença com que a tinha tratado durante a universidade, girou-se para sua amiga e riu de coração.
Ver a Edward desmanchando de riso com Rosalie lhe provocou um ataque de paranóia. Bella interpretou que Edward estava falando do cartão que tinha recebido e que Mike lhe teria contado que era ela quem a tinha mandado. Ainda que tinha o coração rasgado, Bella se levantou com tanta dignidade como pôde, incapaz de agüentar os comentários irritantes de Mike um segundo mais.
- És um grande detetive, Mike - lhe disse antes de sair - Até Sherlock Holmes ficaria impressionado.
- Tu ainda rir? disse Ângela a Mike, que estava desfrutando do riso pela estrondosa saída de Bella - Pode ser que suas amigas não tenhamos ido ajudá-la, mas olha para Edward e aprende.
- Que?
- Ridicularizando Bella não conseguirás subir muito em Sistemas Cullen. Se fosses mulher e estivesses ao tanto dos acontecimentos para valer, saberias que Edward também está atrás de Bella.
- Tolices! - contestou Mike -. Atirou o cartão ao porta-papel!
- Comprovaste se seguia lá ao terminar a jornada? - lhe perguntou outra mulher.
- Edward ainda não é consciente do que sente por ela - disse a terceira.
- Mas quando um homem tão formal como Edward começa a dizer ao pobre Jacob que os gráficos rosas são criativos é que está muito interessado - completou Ângela.
Depois, as três mulheres olharam em silêncio para Edward, que acabava de pedir a Rosalie Halle que o desculpasse e avançava em direção a Bella.
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